A actriz brasileira Juliana Alves, que interpreta o personagem ‘Wanda’ na nova novela da Globo ‘Amor Perfeito’, falou nesta terça-feira, 28 de Março, durante uma conferência de imprensa online, sobre a sua participação e o impacto do seu personagem na referida narrativa, onde destacou a ancestralidade da comunidade negra como um factor presente durante a sua actuação.
Durante a sua interação com a imprensa angolana, Juliana destacou a presença forte do seu personagem Wanda na novela e como irá influenciar outras mulheres.
“Tanto na forma de se vestir quanto no comportamento, na sororidade dela olhando para o que acontece com outras mulheres, mesmo tendo uma vida financeira muito associada à do marido, ela luta para que o seu negócio seja realizado da maneira que ela entende que tem que ser. É uma mulher que no primeiro momento pode parecer que está um pouco alheia ao que acontece a sua volta, mas está bem ligada e a cuidar das coisas que ela acredita. Ela é muito inspiradora”, disse.
Dona da loja ‘A Brasileira Elegante’ que comercializa roupas de expressão africana e não só, Juliana, destacou também que o elenco junto dos directores, teve um trabalho minucioso de perceber com profundidade a realidade de ser uma pessoa negra.
“A Wanda tem uma coisa que eu acho que está muito ligada na forma como esta novela (Amor Perfeito) é feita, ela não está presa ao que era retratado e nos foi passado que é a realidade da época. Os directores desta novela fizeram um papel muito aprofundado que mostra uma realidade principalmente das pessoas negras, muito mais conivente com o que a gente espera e com a realidade. Antigamente as pessoas negras não tinham um tratamento condigno e não eram retratadas nestas histórias de sucesso. Esta novela traz uma realidade que por mais não seja tanto quanto gostaríamos, porque a nossa história é de violência contra as pessoas negras. Ela é uma história que existiu e precisa ser retratada e hoje conseguimos transformar o nosso imaginário e influenciar pessoas a verem como a nossa história de muitas possibilidades”, manifestou.
A profissional continuou ainda a realçar que “esta novela conspirou por directores e actores sensíveis a estas questões que tiveram que escutar um actor negro que está disposto a ajustar tudo que for preciso para ter esta responsabilidade e uma conjuntura que entende que nós não temos mais condições num país como Brasil, contar histórias que não são um retrato local, então fico muito feliz e porque temos uma responsabilidade muito grande, nós sabemos que vamos continuar a errar, mas temos um compromisso social e ancestral de buscar cada vez mais acertar e reparar tudo que vivemos na nossa história”
A actriz referiu que apesar de ser uma luta antiga, acredita que esta ‘guerra’ ainda tem rumo, e que espera ver os negros a ter lugar na sociedade brasileira e no mundo.
“A televisão busca um papel imaginário e as novelas têm uma influência sobre o comportamento das pessoas e a possibilidade delas criarem novas realidades é muito bonito de ver porque esta luta não é de agora, nós temos vindo a reivindicar os nossos direitos e uma maior dignidade para a comunidade negra. Aqui o movimento de mulheres negras costuma ter uma frase “nossos passos” vêm de longe, então esta luta vem de longe, é uma reação em cadeia que muitas vezes pensamos que estamos a caminhar para trás, mas os passos para frente estão a ter rumo”, completou.