Alcides Nogueira, autor de novelas brasileiras de sucesso revela segredos de “Tempo de Amar”


O autor das novelas, “I Love Paraisópolis, O Astro, Força de Um Desejo”, Alcides Nogueira, revelou em entrevista exclusiva ao AngoRussia,  alguns dos segredos da nova novela “Tempo de Amar”, que promete emocionar e abalar corações de todos os telespectadores da Globo, disse estar satisfeito com o progresso da história que retrata o amor em diferentes vertentes. 

Alcides Nogueira começou por definir a dramatologia “Tempo de Amar”, como uma novela de amor com muitas reviravoltas, um folhetim clássico que se passa entre 1927 e 1930, antes da Era Vargas. Amores culpados, plenos, sofridos. O amor é o motor da trama.

Questionado se o amor pode motivar acções egoístas e que prejudicar as pessoas, o autor de “I Love Paraisópolis”, que teve a participação dos actores angolanos Fredy Costa e Lesliana Pereira, disse não ter dúvidas, pois, o amor tem uma força que vai ao encontro com a personalidade de uma pessoa.

“Sem dúvida alguma! Às vezes o amor é uma força tão grande que bate de encontro com a personalidade da pessoa. O amor é uma força quase sempre misteriosa. A personagem Lucinda (Andreia Horta), por exemplo, é uma mulher traumatizada porque foi abandonada pelo noivo. Além disso, carrega a culpa da morte da mãe. E ficou marcada com uma cicatriz no rosto. Uma menina linda, deslumbrante com uma grande cicatriz, o que a impede de ser feliz. A Vilania dela é outra. Ela tem um sofrimento tão grande que quando encontra Inácio, ela agarra essa chance. Eles acabam vivendo uma relação de protecção. Ela age movida pelo amor e, para conseguir o que quer, não tem escrúpulos nenhum. Ela se aproveita da fragilidade dele para levar à frente esse amor egoísta. Em alguns momentos eu sinto raiva dela ao escrever os textos. E em outros sinto profunda ternura”, disse Nogueira.

Alcides revelou que a história de cada personagem será retratada como pano de fundo, afim de sofrerem uma série de transformações profundas ao longo metragem.

“É muito bom ter contexto histórico como pano de fundo. Essa época é muito rica. Você tem artisticamente, em decorrência do Modernismo, a valorização do brasileiro. Além disso, há a discussão da posição da mulher e do negro. No período temos uma série de transformações profundas, vemos o final da República Velha, Getúlio Vargas que voltou para o sul e ficou lá conspirando, até que tomou o poder no Rio. E aí a coisa muda completamente, a Revolução de 30 é um divisor de águas. Esses acontecimentos vão aparecer na novela. Teremos um grêmio na trama coordenado por Vicente (Bruno Ferrari) e Edgar (Marcello Melo Jr) e ali há uma série de apresentações e discussões políticas, com a repressão que no Brasil sempre existiu. Vamos colocar também a queda da Bolsa de Valores em 1929, o que vai afectar profundamente os cafeicultores. Então, parte dos nossos personagens muito ricos vai entrar num outro período da vida, porque é a decadência mesmo”, continuou.

O autor brasileiro, enaltece ainda as mulheres, que noutrora não tinha autonomia de votar, isso no final da década de 20, e surge as primeiras sufragistas que lutam por um lugar importante na sociedade.

“É um período muito importante para a questão das mulheres, que deve ser discutida permanentemente. É exactamente nessa época que aparecem as primeiras sufragistas, porque as mulheres não podiam votar, não tinham direito algum. No Rio, nesse final da década de 20, a gente percebe que as mulheres começam a ocupar posições muito importantes mesmo. Na parte artística, em decorrência do Modernismo – que começou em São Paulo em 1922 – é incrível a influência de Tarsila do Amaral, de Anita Malfatti, uma série de mulheres interessantes. A poetisa carioca Gilka Machado lança em 1927 um livro chamado “A mulher nua”, onde ela coloca explicitamente a questão da sexualidade feminina, o que ainda hoje é discutido com pudor. Essa é uma pauta que precisa estar na novela sim, pois é sempre actual”, contou.

Alcides Nogueira contou que para vários trabalhos já concluídos, como “I Love Paraisópolis e O Astro”, contou com a colaboração dos próprios actores para dar avanço as textos de cada um na novela.

“Sempre dei muita sorte com os colaboradores. É a primeira novela da Bia, mas ela é muito criativa, o tempo todo busca histórias e tramas. Ela tem uma formação cultural muito sólida e isso ajuda muito. E o Tarcísio Lara Puiati já escreveu comigo ‘O Astro’ e ‘I Love Paraisópolis’, então existe uma cumplicidade muito grande. A Bíbi Da Pieve tem um trabalho que eu admiro muito, ela vem dos seriados. Ela traz essa experiência que é importante, porque hoje a novela não é mais como antes. Além da pesquisa importantíssima da Yara Eleodora. Porque uma novela de época sem pesquisa não funciona”, finalizou.

Alcides Nogueira

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