Angola deu hoje o último adeus ao músico Beto de Almeida


Versátil, introvertido e solidário nos camarins, o músico angolano Beto de Almeida estava, há mais de duas décadas de carreira, habituado a “roubar” a cena de protagonista principal nos palcos.

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Angola dá último adeus a Beto de Almeida, ( Foto: Angop)

Nesta quinta-feira, (10), o artista fez “raiar” pela última vez a sua luz, no Cemitério Alto das Cruzes. Mesmo sem poder expressar físicamente a sua voz, “atraiu” no dia do último adeus milhares de admiradores e familiares.

As demonstrações de carinho e solidariedade foram manifestadas por cidadãos de vários estratos sociais, sobretudo colegas de carreira, que marcaram massiva presença no funeral.

Instituições reconhecem feitos do autor

As primeiras palavras das exéquias foram do secretário de  Estado da Cultura, Cornélio Caley, que afirmou, num discurso carregado de emoção e compaixão, ter partido um “regador da alma angolana”.

“Em nome do Ministério da Cultura e todos quantos fazem a cultura, nós perdemos um amigo, companheiro, fazedor de cultura. Estamos num momento triste, em que um  regador da alma angolana se perdeu. Nós aproveitamos esta oportunidade para solicitar a todos quantos ainda estão vivos que façam da música o instrumento que nos catapulta para a alegria e vitória”, declarou.

Seguiu-se a mensagem da União dos Artistas e Compositores (UNAC), na pessoa do seu vice-presidente para a área de música, Massano Júnior, para quem a partida do artista foi uma perda inesperada.

“Todos lamentamos aquando do incidente na Huíla. Entretanto, esperançados, rezamos. Destroçados ficamos quando a fúnebre notícia chegou-nos. Beto parte, fica a obra. Lamentamos este prematuro desaparecimento físico, mas temos certeza de que a sua voz jamais entre nós desaparecerá”, referiu.

Ao ler a biografia e o elogio fúnebre, Sila Mendes, da comissão das exéquias, lembrou que as primeiras aparições do artista, ao lado do irmão Moniz de Almeida, foram fruto do desejo de cantar as vicissitudes de um povo em guerra.

“Esta dupla tornou-se um fenómeno da música popular angolana, conseguindo diferenciar-se dos demais grupos, porque nunca renegou o seu passado, para cantar o futuro”.

Referiu que a dupla soube ao longo dos anos fundir, nas suas canções, a emoção suburbana à mensagem urbana, voltada para a juventude e à conquista de amores, sobretudo nos temas “Guilhermina” e “Morainha”, cantado em umbundo.

“Ao longo dos anos de carreira, Beto manteve sempre activo o seu dom de cantar e encantar os seus admiradores, com lindas e dançantes melodias, ao som da sua incomparável voz.

Deixou a sua marca nas composições e produções que executou. Sempre predisposto a compartilhar com os seus colegas de arte, contribuiu para o sucesso de inúmeras obras musicais e inúmeros cantores nacionais e não só”, expressou.

Música “Minha Viola” na descida da urna

Oriundo de uma família de raízes musicais, o intérprete e compositor de múltiplos recursos foi a enterrar ao som de uma das canções que mais o fizeram aproximar do estrelato e arrebatar corações “Levarei Minha Viola”.

Foi ao som deste tema partilhado com o irmão Moniz de Almeida e cantado inúmeras vezes nas matas, por altura do conflito armado, que “Tchuma” desceu à terra, ante o incrédulo olhar de quem consigo partilhou momentos únicos.

As vozes de artistas e fãs ecoaram em alto som no Alto das Cruzes, num momento marcante que simbolizou o carinho de empresários, atletas, músicos, políticos, diplomatas e familiares pelo autor de “Yara” e “Vizinha Cara de Pau”.

Antes deste momento, Beto de Almeida foi tributado com o tema “Descanse em paz Tchuma”, gravado por um leque de 23 colegas de profissão, que exaltaram, ao vivo, as qualidade profissionais do artista, falecido domingo na Namíbia.

A interpretação dos dois temas, a que seguiram outros números dos artista, com destaque para “Vizinho Cara de Pau”, elevou o clima de comoção entre os presentes, que deram o derradeiro adeus a Beto de Almeida, por entre choros e lamentações.


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