O actor brasileiro e dono de um talento inquestionável, António Calloni, relatou recentemente durante uma entrevista com a Globo, que o auge do sucesso da sua carreira foi viver o personagem do comerciante Mohamed, na novela “O Clone”, que apesar dos pensamentos rígidos, era simpático, divertido, amoroso e intenso, e assim cativou o público.
António Calloni, já se destacou em muitas novelas, mas o comerciante Mohamed teve uma repercussão impressionante tanto no Brasil, como em outros países que até hoje as pessoas recordam-se desse grande personagem.
O que sentiu quando soube que “O Clone” iria ao ar novamente 20 anos após a sua exibição original?
Eu senti-me 20 anos mais velho (risos). Brincadeiras à parte, eu fiquei muito feliz, porque é uma novela que só me traz lembranças boas e muita alegria por causa do sucesso que ela fez. O personagem fez um imenso sucesso. Não só no Brasil, como no mundo todo e, olha, eu estou louco para ver a novela de novo. Com certeza vou ser um espectador assíduo.
O que você recorda de todo o processo de construção do Mohamed e como foi a preparação para interpretá-lo?
O processo de construção foi muito satisfatório. Eu estudei muito o Islão com o Sheik Abdul, que era do Sudão. Ele deu-me muitas aulas, em casa e nos Estúdios Globo. Foi uma aprendizagem muito rica, tenho um respeito imenso pela religião. Aliás, eu adoro o tema religião. Não estudei, mas sou curioso a respeito de várias religiões. A preparação foi bastante intensa. Tanto que, até hoje, eu sei a primeira surata do Alcorão de cor em árabe. Já recitei a primeira surata no “Conversa com Bial”. Até eu fico surpreso com isso, foi uma preparação muito intensa e rica.
Como analisa a trajectória do personagem na história, a sua personalidade e os seus conflitos?
A trajectória do Mohamed é fascinante, porque ele continuou até o fim a ser muçulmano, respeitar as leis do Islão, porém, morar no Brasil. E a coisa mais linda que teve na história do Mohamed foi que ele e a Latiffa casaram-se por obrigação e descobriram um sentimento genuíno. O amor deles é emocionante e muito real. Eles constituíram uma família e, dentro dessa família, sempre existiu muito amor. Isso foi muito bonito.
Essa novela é um dos seus trabalhos mais marcantes na carreira. De que forma “O Clone” impactou a sua trajectória profissional?
O Mohamed realmente é um dos personagens mais marcantes da minha carreira, sem dúvida nenhuma. Eu lembro sempre com muita alegria, foi lindo. Porque antes do Mohamed, eu tinha feito o Bartolo em “Terra Nostra”, que foi um grande estouro, também por causa da própria temática da novela, que falava da imigração italiana. Inclusive, da imigração do meu bisavô. Então, começou ali, uma virada, digamos assim, na minha carreira, e o Mohamed veio consolidar isso. Um personagem que tinha muito humor. Tinha uma força muito grande e um amor gigante, que ele foi construindo ao longo da história pela Latiffa e pela família dele. Eu já tinha feito outros trabalhos muito bons na Globo desde 1986 com a minha estreia em “Anos Dourados”, mas esses dois, “Terra Nostra” em 2000, e “O Clone” em 2001, foram trabalhos muito marcantes e o Mohamed veio coroar essa nova fase na minha carreira.
Até hoje o público fala desse trabalho consigo? Como são essas abordagens?
Até hoje o público fala do Mohamed e eu fico muito feliz com isso. Não só no Brasil, mas no mundo inteiro, é impressionante. Nas viagens que fiz pelo mundo as pessoas vinham falar comigo, algumas muito emocionadas. Teve uma mulher Moldava, eu estava numa fila de um dos parques da Disney com o meu filho e ela veio ter comigo a chorar. Foi um momento muito marcante. Ela veio muito emocionada para dizer que a novela passou por lá e que adorava o personagem. É incrível o alcance que temos com as nossas novelas e era uma loucura a repercussão do personagem.
Disseste que gostarias muito de rever a obra. É muito autocrítico ao revisitar um trabalho antigo?
Vou ver a novela com muito prazer. Inclusive vejo, eventualmente, algumas cenas de trabalhos antigos. Eu gosto muito de revisar alguns trabalhos e “O Clone”, em especial, vai ser um prazer redobrado, porque eu fui muito feliz fazendo.
Como foi a pareceria com a Letícia Sabatella na construção da relação de Mohamed e Latiffa?
O casal Mohamed e Latiffa até hoje é lembrado e isso deixa-me muito feliz, muito emocionado. Foi muito feliz a parceria com a Leticia, que fez um trabalho brilhante. Uau, ela compreendeu essa personagem de uma maneira absoluta. Tinha poesia, amorosidade, cuidado, carinho. Foi um trabalho excepcional da Letícia e, depois, encontrei-me com ela em outros trabalhos também. Antes de “O Clone”, já tínhamos feito “O Dono do Mundo”. Ela é uma pessoa com um talento gigante. Foi um prazer imenso trabalharmos juntos. Espero um dia retomar essa parceria. Quem sabe? Mas a relação Mohamed e Latiffa foi fantástica. Uma ideia para a Gloria: colocar o Mohamed e a Latiffa em outra história dela, mais velhos. A Letícia não, porque a Letícia não envelhece, mas eu posso fazer o Mohamed mais velho em outra história da Gloria. É uma boa ideia, eu acho! (risos).
A novela “O Clone” que estará de volta a partir do dia 11 de Outubro, terá emissão de segunda à sábado nos canais Globo HD e Globo On, nas posições 10 e 72 da da ZAP. A novela é escrita por Gloria Perez, com direcção do núcleo e geral do Jayme Monjardim, direcção geral de Mário Márcio Bandarra e Marcos Schechtmann, e direcção da Teresa Lampreia e Marcelo Travesso.
Por: Anasilda Brancel