Polícia faz detenções na periferia da capital


O Comando da Polícia Nacional em Luanda realiza há alguns dias uma série de operações de prevenção e combate ao crime. Na noite de sexta-feira, foram detidos 211 indivíduos e apreendidas duas viaturas e dez motorizadas. A operação policial também atingiu o Mártires de Quifangondo, um bairro conhecido por hospedar muitos estrangeiros, alguns dos quais em situação ilegal.

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O relógio marca 18h00. No interior da Unidade Operativa de Luanda (UOL) regista-se um movimento frenético de centenas de efectivos, que fazem os últimos acertos para entrar no terreno de operações. As viaturas são reabastecidas e colocadas em prontidão para mais uma missão: garantir a ordem e a tranquilidade das populações, apanágio de qualquer órgão policial no mundo.
É notória a motivação dos agentes escalados, enquanto jantam. De repente, um apito soa e, na formatura, a comandante provincial de Luanda da Polícia Nacional, comissária chefe Elizabety Ranque Franque, anuncia o objectivo da missão, que tem como alvo principal a periferia de Luanda e visa reforçar o sentimento de segurança entre as populações.
“Vamos agir de forma responsável, profissional e usar a arma de fogo com muita responsabilidade para o sucesso da missão”, adverte. A comandante de Luanda pede ainda rigor e disciplina.
Com as sirenes a tocar, as viaturas saem da UOL às 19h00 e distribuem pelos vários pontos considerados críticos em termos de criminalidade os dois mil efectivos escalados para a missão. É uma força mista, integrada por efectivos das polícias de Ordem Pública, Intervenção Rápida, Investigação Criminal, Trânsito e das brigadas Anti-Crime e Canina.

Assaltos na via

A missão percorre várias artérias de Luanda, nas quais os efectivos fiscalizam o trânsito rodoviário. A algumas viaturas é dada ordem para parar, seguindo-se uma revista minuciosa com vista à detecção de armas de fogo.
No bairro Calemba 2, município de Belas, a escuridão na via que dá acesso ao Estádio 11 de Novembro desaconselha qualquer cidadão a circular, sob risco de ser assaltado. Os que por ali passam, fazem-no sobretudo a bordo de viaturas ou em grupos de três pessoas.
A estudante universitária Maria Inácio vive na Vila Flor. Enquanto aguarda na paragem pela chegada do marido, conta ao repórter que, há cinco dias, apanhou um táxi e, a meio do trajecto, o motorista, que estava com um comparsa, mudou de rota e os dois tentaram violá-la sob ameaça de morte. O acto só não foi consumado por ter passado uma patrulha da Polícia que a socorreu, acabando os dois indivíduos detidos.
Quem não teve a mesma sorte foi Filomena. “Fui violada por um jovem na casa dos 30 anos, o que fez com que o meu marido passasse a apanhar-me na paragem de táxi às 22h00, quando saio da escola”.
António Ventura, morador da Vila Kiaxi, diz que as operações policiais devem ser realizadas com regularidade, pois os marginais assaltam a partir das 22h00, tanto transeuntes como moradias.
Sebastião Manuel, 34 anos, mora na Sapú, onde foi assaltado por três jovens e viu a sobrinha ser violada. “Se reagisse, matavam-me, pelo que preferi cumprir a ordem para preservar a vida”, disse. O Palanca, um bairro que surgiu logo depois da independência, é uma das zonas mais críticas de Luanda. Numa das ruas, o cidadão António Filipe observa a presença da Polícia Nacional. Manifesta a sua satisfação com palavras de agradecimento dirigidas ao agente Pedro Lourenço, da Polícia de Intervenção Rápida, força de elite do Comando-Geral da Polícia Nacional.
Ao agente, pede que a Polícia coloque mais esquadras móveis. Pedro Lourenço encoraja o morador a denunciar os assaltos na enquadra mais próxima.

Detidos em flagrante

Já é madrugada. O silêncio toma conta do ambiente. Os efectivos da Polícia de Intervenção Rápida patrulham as áreas críticas no interior do bairro Vila Flor, onde a escuridão desaconselha a circulação.
Quatro jovens com movimentos suspeitos circulam pelo bairro. Um deles, Josimar Muginga, que empunhava uma arma de fogo, do tipo AKM, de cano cortado, é detido pelas forças policiais.
Os comparsas conseguem fugir. Apesar de todas as evidências, Josimar Muginga diz à Polícia que a arma não lhe pertence e nem sequer conhecia os fugitivos. Enquanto conversa, com visíveis sinais de embriaguez, muda o discurso: “Não, chefe, eles são meus amigos e só queríamos roubar telefones”.
Minutos depois, na mesma área, Manuel Massakala é detido por conduzir sem cartas de condução e embriagado. Por igual motivo, é também detido Francisco Miguel. As viaturas policiais continuam a percorrer as ruas do Calemba 2. Na via que liga a Praça Nova ao Kimbangu, um homem está estendido na berma da estrada com sinais visíveis de espancamento. Não se consegue levantar nem responder às questões que lhe são colocadas. Um carro patrulha leva-o ao hospital.
O veículo que transportava os repórteres entra por volta das 3h00 na esquadra do Capalanga, em Viana, aonde chegam marginais detidos. Entre eles estão Nunes Constantino, 21 anos, e Sebastião Gaspar, 23, procurados devido ao roubo de uma motorizada que venderam a 30 mil kwanzas no Mercado do 30, na semana passada. Como o crime não compensa, foram detidos quando tentavam roubar outra motorizada naquela madrugada.

Cenas do Mártires

A operação policial também atingiu o Mártires de Quifangondo, um bairro conhecido por hospedar muitos estrangeiros, alguns dos quais em situação irregular. A presença policial é uma constante no local, para conter a imigração ilegal.
Na rua 12 do bairro, a presença dos agentes da Polícia provoca uma correria de estrangeiros, que pernoitam numa discoteca bastante concorrida, a Mamã Monique, que também é uma pensão. Enquanto os que estão no exterior fogem, os que se encontram dentro da discoteca refugiam-se nos quartos e no terraço. Como resultado, 18 cidadãos do Congo Democrático em situação ilegal, na sua maioria mulheres, são detidos e encaminhados para o Centro de Detenção de Estrangeiros para posterior repatriamento. A proprietária do estabelecimento, Mónica Nselengue, 54 anos, também é detida sob a acusação de auxílio à imigração ilegal.

Fonte: JA


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