O Dia Mundial da Saúde Mental é comemorado a 10 de Outubro, desde 1992. Todos os anos, a Federação Mundial para a Saúde Mental (WFMH), em articulação com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU), escolhe um tema, que deverá estar na senda de prioridades dos governos, para este ano é “Saúde Mental num Mundo Desigual”.
A intenção da lembrança é colocar temas da saúde mental nas agendas dos governos, para além de centrar a atenção pública de forma global, como uma causa comum a todos os povos, para além dos limites nacionais, culturais, políticos ou socioeconómicos. Combater o preconceito, o estigma e a exclusão de pessoas com experiência de doença mental e seus familiares/cuidadores informais é outro dos objectivos deste dia.
O tema escolhido para o ano de 2021 vem precisamente na senda da sua priorização na agenda dos organismos públicos e privados a nível global , “Saúde Mental num Mundo Desigual”.
Este tema, escolhido destacará que o acesso aos serviços de saúde mental continua desigual, com cerca de 75% a 95% das pessoas com transtornos mentais em países menos desenvolvidos incapazes de ter acesso a serviços de saúde mental, e o acesso em países desenvolvidos não é muito melhor.
O aumento de casos de doença mental é uma realidade em Angola, em 2018, por exemplo, 31.619 casos de pessoas com transtornos mentais foram registados, de acordo com a psicóloga clínica Suzana Diogo, que falava ao Jornal de Angola, em alusão a efeméride, destacou que, segundo dados do Ministério da Saúde, entre os casos ocorridos, destacam-se a depressão, esquizofrenia, demência, transtornos do desenvolvimento e outros mais comuns.
De acordo a psicóloga, 101 casos de suicídios foram registados no primeiro semestre deste ano, estatística que deve preocupar a sociedade civil e o governo.
“É urgente criar novas estratégias de acção, melhorá-las e fazê-las funcionar na prática. Precisamos de consciencializar as pessoas de que a luta contra o suicídio, a violência doméstica, o alcoolismo, o cancro da mama e da próstata não se encerra depois das efemérides, a luta deve ser contínua e de todos”, sublinhou.
Para a especialista, cuidar da saúde mental é essencial e indispensável para a construção de uma sociedade equilibrada e inclui parar e reflectir sobre a vida, pensar se estamos bem connosco e com as outras pessoas.
“É perceber a existência da outra pessoa à nossa volta e o impacto que esta tem sobre nós, cuidar da saúde física, consultar periodicamente um psicólogo, entre outras acções que fazem toda a diferença e melhoram a nossa saúde mental”, salientou.
A psicóloga apontou como principais factores, o desemprego e a pobreza, que têm contribuído para o aumento do número de doenças mentais no país, e para o aumento de fenómenos como a prostituição, delinquência e dependência química.
Suzana Diogo referiu que Angola tem ainda muito que melhorar no que diz respeito ao aumento do número de profissionais capazes, para atender à demanda e à prestação de saúde mental.
“É facto que a pandemia da Covid-19 veio reforçar esta necessidade, pois que, para além do combate e prevenção da doença, tornou-se necessário olhar também para o seu impacto sobre a saúde mental, o que exigiu a intervenção massiva de especialistas no ramo”, avançou a psicóloga.
A especialista referiu que a meta do Ministério da Saúde, pautada no Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário, preconiza que, até 2022, pelo menos 50 por cento das unidades sanitárias disponham de serviços integrados de saúde mental. Contudo, alerta que não satisfaz apenas ter esses serviços, sendo necessário que funcionem e sejam prestados com a qualidade que se exige.
“Trabalhar com mentes humanas é uma grande responsabilidade e requer um nível de maturidade profissional superior. Tudo começa na aquisição de competências e isto passa essencialmente por uma formação de qualidade, no que, infelizmente, temos de melhorar”, frisou.
Suzana Diogo aponta como exemplo a quantidade de licenciados em Psicologia fora do exercício profissional, com a justificativa de se sentirem desprovidos de capacidade para responder assertivamente a este desafio, a falta de especializações, mestrado e doutoramento nas áreas de Saúde Mental e o número limitado de vagas nos concursos públicos para o ingresso de profissionais da área.
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