Psicóloga Denise da Veiga aborda sobre os principais factores que levam um indivíduo a cometer suicídio


Estudos revelam que o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos. De acordo com  estudos, 79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda. Preocupado com o número de suicídios registados no país nos últimos tempos, o AngoRussia procurou saber de uma profissional quais os factores levam uma pessoa a tirar a própria vida.

Em entrevista concedida à nossa equipa a Dr. Denise da Veiga começou por esclarecer que normalmente as pessoas que cometem suicídio, o fazem por quererem aliviar pressões internas com as quais não conseguem segurar e lidar por muito tempo.

A profissional fez saber que pressões externas como cobranças sociais, culpa, remorso, depressão, ansiedade, medo, fracasso, humilhação, abusos sexuais ou maus tratos, são factores que também favorecem os pensamentos suicidas.

“Em momentos de cobrança, culpa, remorso, depressão, ansiedade, medo ou humilhação, a pessoa combina sentimentos ou ideias conflituosas. Ela busca atenção por se sentir esquecida ou ignorada e tem a sensação de estar só, uma solidão sentida como um isolamento insuportável. Algumas pessoas têm um desejo de revide ou imposição do mesmo sentimento negativo aos outros, querendo que sintam o mesmo que ela. A gota de água que faz a pessoa partir para a acção é o sentimento de angústia, vontade de desaparecer, fugir ou de ir para um lugar ou situação melhor”, contou.

A psicóloga disse ainda que tais pressões despertam nos indivíduos uma necessidade de alcançar paz, descanso ou um final imediato aos tormentos que não terminam.

De acordo com a profissional, os dados obtidos recentemente sobre a situação do suicídio no País, são assustadores, pois a estatística demonstra que só de Janeiro a Junho foram contabilizados 435 suicídios, um dado que reflete que a questão do suicídio em Angola começa a carecer de uma maior atenção por parte do ministério da saúde, mais propriamente do departamento de saúde mental.

Na vasta experiência que possui, Denise da Veiga conta que já atendeu alguns casos de depressão com ideias suicidas, o que mostra o quão perigosa é a doença que muitas vezes é banalizada.

“Já atendi alguns casos de depressão com ideia de acções suicidas, propriamente aliados ou decorrentes de abuso sexual na infância. Normalmente resolve-se com uma combinação de medicação psiquiátrica, bem como de psicoterapias”, disse.

A psicóloga destacou também que a Psicologia na sociedade angolana de um modo geral ainda é um tabu, por isso os profissionais da área da saúde mental têm um trabalho muito grande no que toca a psicoeducação social sobre esses e tantos outros temas ligados a área.

“Enquanto continuarmos a pensar que psicólogo é para “malucos”, que depressão é frescura e falta de Deus, que o suicídio é querer chamar a atenção das pessoas, e que as psicoses são causas de feitiçaria, e que ao invés de serem tratadas nos hospitais, devem ser tratadas na igreja, continuaremos a fazer com que as pessoas tenham medo de falar sobre as situações que lhes afligem, por medo de serem julgadas e conotadas como fracassadas, até mesmo por familiares”.

Apesar de todas as barreiras que limitam a psicoeducação, Denise da Veiga reforçou: “continuaremos a dar passos largos na inibição da abertura das pessoas para falarem sobre o assunto, bem como passos lentos no que toca ao desenvolvimento da Psicologia em Angola”. A profissional da área acrescentou que existe uma relação muito próxima entre o suicídio e a depressão, uma situação que tem servido de tema de debate em muitas “rodas de conversas”.

Para terminar a Dra. Denise realçou que 90% dos suicídios podem ser prevenidos, quando as pessoas pedem ajuda no momento da crise, e alerta a população que “tudo na vida tem uma solução, e que tirar a própria vida não é a melhor opção. Reconheça a sua situação, e procure por ajuda especializada”.

A fundação BELIEVER, tem uma linha de atendimento para casos de suicídio, poderá ligar para os números 934 76 66 59 / 934 766 652 disponíveis 24/24h


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