Calou-se a voz que imortalizou a morna, numa altura em que este género musical concorre à Património Imaterial da Humanidade. Adriano “Bana” Gonçalves morreu vítima de doença prolongada. Bana, a grande voz da morna, morreu na madrugada deste sábado no Hospital Beatriz Ângelo, Lisboa (Portugal). A Nação Cabo-verdiana está de luto. O funeral deverá realizar-se este domingo.
A morte do Bana aconteceu por volta das 23 horas de Cabo Verde. Numa primeira reacção, o seu filho disse que, por vontade da família, o “Rei da Morna” vai ser sepultado em Portugal.
Bana nasceu há 81 anos, no dia 5 de Março, na ilha de São Vicente. Era o filho mais novo de uma família humilde. Começou a cantar ainda muito jovem nos bares do Mindelo.
Emigrou depois para Dacar, depois para França, antes de fixar residência em Portugal, onde se afirmou. Durante a sua vida artística, gravou meia centena de LP´s, que o levaram aos quatro cantos do mundo sempre cantando a morna e encantando cabo-verdianos e estrangeiros.
Foram 70 anos a cantar Cabo Verde ao mundo. Fez um percurso sólido e transformou-se num ícone da cultura cabo-verdiana. Era um artista com “A” maiúsculo que, graças a sua estatura, ocupava qualquer palco do mundo.
Foi-se o artista, mas fica na memória de todos uma grande obra e a sua imagem de marca: Bana parado no meio do palco com o seu lenço branco na mão.
Precoce
Bana nasceu para cantar. Começou cedo. Aos 13 anos, abandonou a escola para se dedicar a música. Fez coro para vários artistas que cantavam mornas nos bares do Mindelo. A sua voz potente chamou a atenção e passou a ser admitido entre os grandes. B.Lez foi um dos muitos artistas que se encantou com a voz de Bana e, em 1959, apresentou-o numa digressão que a Tuna Académica de Coimbra efectuou a S. Vicente.
Integrava a Tuna o jornalista, escritor e romancista Fernando Assis Pacheco e o poeta e político Manuel Alegre, que tentaram levar o Bana para Dacar. Mas a sua primeira saída foi para Dacar, onde gravou o seu primeiro trabalho e fez os primeiros espectáculos.
Adriano Gonçalves viajou depois para Paris onde, em 1968, grava mais dois LP´s. Em Holanda, voltou aos estúdios onde publicou mais dois LP´s e seis EP. Em 1969, canta finalmente em Portugal, na inauguração da Casa de Cabo Verde, junto com Luís Morais e Morgadinho. Com estes dois artistas formou, em 1966, o emblemático Voz de Cabo Verde, mais Toy Bibia.
Ao longo de 70 anos de carreira publicou meia centena de LP e EP, em grupo e a solo e participou em quatro filmes. O seu último trabalho foi gravado em 2007 “Bana e Amigos (CD e DVD). É conhecido por também ter lançado vários artistas cabo-verdianos em Portugal.
Ensaiou “aposentar-se” por diversas vezes, mas sempre respondia aos apelos para voltar aos palcos. O Rei da Morna foi igualmente homenageado por várias vezes, sendo que a última homenagem aconteceu no Coliseu de Lisboa em Junho de 2012 e em Cabo Verde com o Prémio Carreira, na segunda edição do Cabo Verde Music Awards.
Dentre a sua imensa discografia, destacam-se “Canto de Amores” (2006), “Livro Infinito” (1999), “Bana – A Voz de Cabo Verde” (1991), “Perseguida” (1989), “Gira Sol” (1988), “Grito d’Povo” (1985), “O Encanto de Cabo Verde” (1982), “Morabeza” (1981).