A longa-metragem “O Grande Kilapy”, do realizador angolano Zézé Gamboa, estreou-se, na noite desta segunda-feira, no Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no âmbito do seu programa “Próximo Futuro”.
Apesar da forte chuva que caiu sobre a capital portuguesa, o público aderiu em massa para assistir, mais uma vez, o filme de Zézé Gamboa, depois da sua estreia, em 2013, no Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (FESTIN), então dedicado à Angola.
No filme “O Grande Kilapy”, o protagonista “Joãozinho das garotas” (actor brasileiro Lázaro Ramos) interpreta o papel de “um jovem angolano que nos últimos anos do colonialismo burlou o estado português em muitos milhares de contos, tendo sido preso na véspera da revolução de Abril de 1974 e libertado como um dos heróis da Independência de Angola”, no ano seguinte.
Apesar da apreciação positiva do jurado do FESTIN-2013, que outorgou o título de “melhor actor” no referido festival ao “angolano Joãozinho das Garotas”, a película não deixou de merecer algumas críticas em termos sociológicos.
Na visão da socióloga Luzia Moniz, apesar de ter sido tecnicamente bem feito e sido protagonizado por um grande actor brasileiro, o filme tenta erroneamente “mostrar uma Angola colonial onde havia uma harmonia racial, onde negros e brancos viviam e conviviam sem diferenças”.
“A luta de libertação nacional, um dos maiores feitos dos angolanos, é reduzida como um feito essencialmente dos angolanos brancos, enquanto os negros têm um papel secundário ou mesmo terciário, havendo ainda o quase menosprezo do papel da Casa dos Estudantes do Império, esse centro nevrálgico da luta clandestina contra o colonialismo e o fascismo portugueses, que no filme é quase rotulado como a plataforma da boémia”, adiantou.
“Perdeu-se uma boa oportunidade de o cinema fazer história com uma das páginas mais heroicas da história do povo angolano, através da sua luta de libertação nacional”, conclui.
O programa “Próximo Futuro”, da Fundação Gulbenkian, criado em 2009, surge na sequência dos projectos, entre outros, “O Estado do Mundo e Distância e Proximidade”, visando, além da interculturalidade, reflectir também sobre a contemporaneidade, assim como contribuir para a redefinição das identidades.
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