Em março, o rapper americano Jay Z lançou o Tidal, um serviço de streaming musical, uma biblioteca online na qual o usuário não baixa os arquivos, só escuta as faixas, que vai funcionar exclusivamente por assinatura. Foi uma cerimônia pomposa, em Nova York, que contou com outros superastros e sócios no negócio como Madonna, Rihanna e Jack White. Mas as coisas parecem não estar a ir muito bem na empresa.
Na ocasião, o Tidal foi pintado como uma espécie de “justiceiro” do novo mundo da música digital, no qual os artistas não andam muito contentes com o dinheiro que ganham pela veiculação de suas canções – embora, vale dizer, aqueles presentes no evento sejam notórios milionários da indústria musical. O Tidal repassará 75% das receitas para gravadoras e artistas, enquanto o rival Spotify paga 70%.
Primeiro, vieram as críticas de blogueiros especializados e de artistas do meio. “Quem esses tipos pensam que são, os ‘Vingadores’?”, disse Noel Gallagher, do Oasis, à revista Rolling Stone. O ceticismo vem do fato que a mesma indústria musical que Jay Z agora recrimina já rendeu a ele 34 milhões de álbuns vendidos. Além disso, o músico se associou a dezenas de multinacionais na carreira, em eventos e campanhas de marketing, e costuma dizer que é “o Warren Buffett negro”. “E agora eles querem salvar o mundo”, ironizou Gallagher.
O Tidal também teve de enfrentar um embaraço público. No lançamento, uma executiva da empresa chamada Vania Schologel deu a entender que a Sprint, terceira maior operadora de celulares dos EUA, seria uma investidora no negócio.
“Desde o início, Marcelo [o CEO da Sprint, Marcelo Claure] e Jay estão alinhados na visão de criar a mais revolucionária plataforma de música e entretenimento do planeta”, disse.
Pouco depois, uma reportagem do New York Post – citando uma fonte anônima – afirmou que a Sprint havia comprado uma fatia do Tidal, num negócio que avaliava a empresa em US$ 250 milhões – após Jay Z ter pago US$ 56 milhões para comprá-la. Nada era verdade. A Sprint acabou por publicar uma nota a informrque não fez nenhum investimento financeiro no Tidal, nem um acordo de parceria exclusiva.
Jay Z afirma que a empresa já tem 900 mil assinantes – o serviço tinha 500 mil quando foi adiquirido por ele. Mas analistas consultados pela Bloomberg Businessweek, que fez uma extensa reportagem nesta semana sobre os problemas do negócio, temem que são apenas usuários do teste grátis que foi disponibilizado no lançamento, e que poucos vão aceitar pagar quando o serviço passar a cobrar pelas assinaturas.
O Tidal também afirma que poderá usar a força dos sócios na empresa para alavancar o negócio, através da exclusividade de veiculação de músicas e álbuns deles. O problema é que as grandes gravadoras já têm contratos firmados com esses artistas, que não preveem esse tipo de “troca de time”.
Até o momento, o Tidal só conseguiu um acordo com a Universal, com quem Jay Z tem um antigo relacionamento, mas falta convencer gigantes como Sony e Warner a fazer o mesmo e ceder suas estrelas para lançar faixas exclusivas no serviço.
Mas a principal dúvida parece ser também a mais simples: por que as pessoas vão ouvir música no Tidal, quando existem outras empresas bem estabelecidas a fazer exatamente o mesmo? Além do líder Spotify, avaliado em US$ 8 bilhões, existem serviços no mercado como o Deezer e o Rhapsody. O Spotify contem basicamente o catálogo de todos os artistas que são sócios do Tidal. Inclusive os discos de Jay Z, e de graça, coisa que o Tidal não vai permitir. Parece improvável que a audiência vá migrar para o novo serviço para, bem, dar um pagamento mais justo a artistas como Madonna e Rihanna.