Kilamba surpreende moradores


Francisco Miguel está entre as centenas de jovens que se mudaram para a cidade do Kilamba este ano, depois de terem pernoitado em frente a uma das lojas da Delta Imobiliária para conseguirem realizar o tão almejado sonho da casa própria.

Ao ser abordado, nesta Quarta-feira, 24, pela equipa de reportagem de O PAÍS, durante uma ronda efectuada àquela cidade, para fazer uma comparação entre os gastos financeiros na sua anterior residência com a actual, disse que quase tudo aumentou de forma drástica.

Para justificar a sua afirmação, o jovem disse que passou a gastar muito mais devido a falta de mercado próximo e que o único supermercado que existe pratica preços elevadíssimos, o que não facilita a vida do cidadão.

De modo a colmatar esta lacuna e evitar que os seus educandos passem o resto do mês em situação de penúria, o antigo munícipe do Cazenga contou que se desloca frequentemente ao mercado da Sanzala, em Viana, para fazer compras, porque lá os bens alimentares de primeira necessidade são comercializados a um preço mais acessível.

Na rua Amilcar Cabral, uma das mais movimentadas, encontramos vários estabelecimentos comerciais, entre os quais dois restaurantes onde um bolo (vulgo micate ou bola de Berlim) custa 250 Kwanzas, uma gasosa 150 Kwanzas, um pacote de sumo 450 Kwanzas e a cerveja mini 250 Kwanzas.

O cliente que optar por uma bebida alcoólica nacional, como o fino Cuca, tem que desembolsar 150 Kwanzas pela Caneca. Na única loja de bens de primeira necessidade (popularmente conhecidas de cantina), uma lata de insecticida custa 500 Kwanzas.

A jovem Isabel Tatiana, uma das moradoras mais antigas, considera um absurdo os preços praticados nestes estabelecimentos comerciais, visto que como os moradores estão muito distante do único supermercado que ali existe, no caso o Kero. “As coisas deviam ser mais acessíveis”. “Ainda não entrei em nenhuma destas lojinhas, mas devo dizer que considero absurdo os preços por eles praticados”, frisou.

Quando a sua viatura está avariada, para além de ter que percorrer a pé a distância que separa o lote D, onde reside da Via Expresso, onde apanha seis táxis (de ida e volta) até ao mercado. Ela diz que este valor seria maior caso tivesse que recorrer aos serviços de uma empresa de táxi privada que opere na cidade, como a Táxi Jovem.

“À título de exemplo, uma caixa de frango no único supermercado que existe aqui custa cinco mil Kwanzas, enquanto no mercado da Sanzala, com este dinheiro, compro duas caixas com os mesmos quilos, marca e origem deste produto”, frisou. Apesar de as operadoras de transportes colectivos, Macon, TCUL e Tura operarem naquela rota, Ela declarou que a outra grande dificuldade que os moradores enfrentam está relacionada com a falta de transportes públicos ou privados a operar da Via Expresso do Benfica à centralidade.

“Em tempos a minha única viatura avariou e não tive como me deslocar. Os jovens que se arriscam fazer táxi aqui, em troca de 100 Kwanzas por cada passageiro, são severamente punidos pela administração da cidade caso sejam descobertos, o que os leva muitas vezes a não o fazer, temendo que possam ficar 45 dias sem os seus meios rolantes”, frisou.

Um jovem, que diz ser o autor de algum dos vídeos que circularam na internet mostrando a cidade inundada e com algumas ruas cheias de lixo, defendeu que a cidade ficaria mais linda se a administração tivesse um sistema de recolha de lixo e de tratamento dos jardins mais eficiente. “Importa aqui realçar que aquela lagoa e o amontoado de lixo que eu postei do facebook já não existem”, alertou.

Redução drástica dos gastos

Já o jovem Walter Dias, instado a fazer uma comparação entre os gastos financeiros que tinha na sua anterior residência (localizada na rua A do Golfe II, vulgo rua do Kantinton, por causa de uma vala que vem do bairro com o mesmo nome) com a actual, ele descreveu, sorrindo, que é quase que incomparável.

“Eu gastava periodicamente 15 mil Kwanzas para encher o tanque de água de dez mil litros e aqui desembolso apenas cerca de 400 Kwanzas pelo consumo de quase a mesma quantidade deste precioso liquido, porque são 45 Kwanzas o metro cubico. O que quer dizer que economizo mais de 14 mil Kwanzas”, explicou.

No que concerne ao consumo de energia eléctrica, Walter Dias contou que pagava mensalmente quatro mil e 500 Kwanzas por uma energia que quase não consumia não só por causa das constantes falhas, mas também por ser demasiado fraca.

O que o levava a ter que ligar diariamente o gerador no período nocturno, só para conservar os frescos e mantar os aparelhos de Ar Condicionado em pleno funcionamento. Isto fazia com que ele gastasse mensalmente 30 mil Kwanzas só com a compra de combustível para o gerador. Com a mudança para a sua nova residência, os seus gastos com este bem que todos precisam e que constitui um dos principais desafios do Executivo para o período de 2012 a 2017, baixaram de 34 mil e 500 Kwanzas para dois mil Kwanzas por mês.

“Estou aqui há dois meses e durante este período já pude economizar cerca de 32 mil e 500 Kwanzas em cada um dos dois meses, se tivermos que acrescer a isto mais o valor da água vai dar mais de 46 mil Kwanzas”, declarou.

Walter Dias disse ainda que os encargos financeiros acabavam por ser maior naqueles dias em que não conseguia mantar o gerador a funcionar no período da noite por causa de uma avaria, devido ao facto de isso estragar todos os produtos frescos adquiridos para suportar a alimentação da família durante o mês.

Educação a baixo custo

O outro factor que o nosso interlocutor ressaltou como sendo bastante vantajoso esta relacionado com a possibilidade de os seus educandos, que se encontram no ensino primário, estarem matriculados próximo de casa, embora tenha outros que, por falta de vaga nas poucas escolas que se encontram em funcionamento, ainda se encontrarem a estudar fora da centralidade.

“A transferência da minha filha e do meu sobrinho que vive connosco do colégio para uma das escolas públicas aqui existentes também proporcionou uma redução nos nossos encargos financeiros”, frisou. Acrescentou, de seguida, que “com todos os serviços que aqui encontrei consigo fazer uma poupança, em média, de 70 mil Kwanzas/mês.

O que quer dizer que nos proporcionou maior crescimento económico, muito embora os gastos com o combustível do carro tenham aumentado por causa da distância para o meu local de trabalho. Mas mesmo assim ainda é mais vantajoso”.

O nosso interlocutor atestou que se abrirem mais escolas ainda este ano lectivo, conforme está previsto, não pensará duas vezes para transferir os seus educandos para lá, o que lhe proporcionará a possibilidade de economizar mais algum dinheiro.

Apesar de ainda não ter vivenciado nenhum assalto ou conhecer algum vizinho que tenha sido vítima, Walter Dias aproveitou a ocasião para chamar a atenção a quem de direito sobre a fraca presença de efectivos da Polícia Nacional naquela localidade.

O que, no seu entender, poderá facilitar a vida dos marginais que poderão eventualmente actuar ali, visto que isto é praticamente inevitável quando se vive em comunidade.

Para além da taxa anual que terá de pagar em 20 anos pela compra do apartamento, ele contou que os moradores do seu edifício, reunidos em assembleia, optaram por pagarem uma taxa mensal para contratar uma empresa de segurança para os proteger e assegurar a sua manutenção.

“Há uma empresa que nos cobrou 800 dólares por dois seguranças 24/24horas e pelo número de apartamentos que temos pagaríamos talvez 700 Kwanzas cada um, tendo em conta que aqui existem 44 apartamentos, mas como só 22 estão habitados, acordamos que cada um deverá pagar cerca de dois mil Kwanzas e mais uma outra pequena quantia para a manutenção do edifício. Acordamos que cada morador vai pagar mensalmente quatro mil e 700 Kwanzas”, declarou.

A centralidade do Kilamba conta com uma unidade da Policia Nacional que, para além dos postos policiais que tem montados na entrada das duas vias de acesso ao interior da cidade, montou uma esquadra móvel na avenida Imperial Santa (por ser uma das mais movimentadas) e um posto policial contentorizado nas imediações do Quarteirão Vale do Rio Pembe, vulgo lote K.

Ele disse ainda que no seu sistema de renda resolúvel já está incluida a taxa de condomínio e compete à Administração mandar alguém fazer a limpeza do edifício. “Mas ouvi outro dia, o presidente da cidade do Kilamba, a dizer, em entrevista à Radio Luanda, que estão a analisar a possibilidade de cobrar aos moradores uma taxa de urbanização que ainda não sabemos quanto será”.

“Acredito que estará relacionada com os espaços verdes, mas acredito que não será superior a mil Kwanzas. Portanto, é por isso que eu disse inicialmente que são incomparáveis os anteriores encargos financeiros da minha família com os actuais”, declarou.

Fonte: opais

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