Jovem conta sobre o duro processo de conviver com quem tem cancro e aconselha: -“Dê amor e atenção”


Antónia Generosa, de 28 anos de idade, despertou a atenção de todos para uma reflexão profunda sobre o dia-a-dia de quem vive com o cancro e contou ao AngoRussia como o processo de tratamento chega a afectar muito os familiares.

Foto: Meu Estúdio

A jovem guerreira que perdeu a mãe em 2011, após lutar em silêncio contra o cancro do útero, fez saber que esta não contou sobre a doença com medo de magoar as suas duas filhas e preferiu calar-se durante muito tempo até que faleceu sem as filhas saberem qual era a causa da sua morte.

Em 2019 a história se repete com a irmã mais velha de Antónia que foi diagnosticada com o cancro do ovário, e após três anos de muita luta, a jovem decidiu partilhar com mundo tudo que viveu durante o processo de tratamento e convida as pessoas a abraçarem a causa do “Outubro Rosa”.

“Em 2019 a minha irmã teve cancro de ovário, fez tratamento, chegou a ser operada, mas não chegou a tempo de fazer a quimioterapia. Oito anos antes havíamos perdido a minha mãe para o cancro do útero, então o medo, a angústia, a incerteza tomava conta da minha irmã durante o tratamento, mas ela sempre foi muito forte, ou se fazia de forte, os efeitos colaterais não deixaram ela se abater. Seguiu firme o tratamento, lutou contra a doença, mas não aguentou. Apesar de ser muito vaidosa, ela não teve queda de cabelo, ela andava pela rua mesmo magra usou lenço e não deixou a auto-estima cair. Era uma irmã amorosa, cuidadosa, uma mulher elegante, tinha um coração enorme. Sempre preocupada com o bem-estar das pessoas e da sua irmã”, começou por contar.

Antónia continuou a destacar as qualidades da irmã e contou que apesar da situação e dos desafios que enfrentava por conta da doença, esta nunca se deixou abater e permaneceu confiante de que tudo correria bem.

“Ela era apaixonada pelo seu namorado. Eles sempre estavam juntos. Eu imaginava que cuidariam um do outro até ao final, apesar da cirurgia ela não foi curada, nunca deixou de fazer acompanhamento médico. Em Maio de 2019 após as consultas de rotina, descobrimos que já estava tudo ramificado e que dessa vez, ela precisaria fazer uma cirurgia. Ela estava muito confiante que tudo daria certo. Teve todo o apoio da nossa família. Faltavam poucos dias para os meus 25 anos, aí a minha mama completaria mais um ano desde a sua partida e ela pensou, será que vou morrer hoje, na verdade, eu também pensei isso, mas não falei para ela, aí ela falou para mim e depois sorriu foi inesquecível”, frisou.

A jovem conta que todo o processo durou cinco meses, tempo que a irmã ficou doente, pois, o cancro foi descoberto última da hora. Apesar de todo esforço e esperança esta veio a falecer no dia 23 de Junho de 2019, o que abalou ainda mais Antónia que lutava junto.

“O que mais me chamou atenção nesse grande processo é o desenvolvimento da doença em si a forma com que a mesma acaba com doente é muito rápida. Foram dias de angústia. Ela faleceu no dia 23 de Junho de 2019, foi o primeiro pior dia da minha vida, uma parte de mim tinha ido. Que dor terrível. Nós duas estávamos juntas nessa luta, ela fez o tratamento, operou e tudo estava controlado. Nesse dia eu fiquei sem chão, senti os meus dedos das mãos entortarem como se eu fosse ter um ataque. Eu queria gritar, chorar, eu queria morrer de tanta dor. Eu só tinha a minha irmã e eu não queria perdê-la! Essa doença tira as esperanças das pessoas. Ficava questionando Deus! Foram 49 dias até o dia que ela se foi. Passamos o meu mês todo no hospital vai e vem”.

Antónia estava desacreditada porque mais uma vez perdia alguém para a referida doença: “Ela dizia que o maior presente era a minha presença ali juntinho dela. Não sabendo que eu daria a minha vida para estar no lugar dela. Ela não aguentava mais ser furada. Eu sempre pedia a Deus nas minhas orações que não queria que a minha irmã sofresse, pois, ela não aguentava mais. Um dia, em meio a tantas dores ela disse: aconteça o que acontecer, eu sempre vou amar-te. Aquilo foi a despedida, eu nunca vou esquecer ela pediu um abraço e adormeceu. Eu queria estar ali por perto independente do que acontecesse, a minha irmã já havia falecido naquele instante, mas a minha fé não me permitia acreditar. Fomos ao centro de oncologia no dia 22/06 e no dia 23/06/2019 a minha irmã se foi, a minha outra jóia que fazia tudo por mim. Eu viveria tudo novamente para estar perto dela. Eu gostaria de ter mais tempo com ela, essa doença é cruel. Deixou um buraco no meu coração. As vezes sofro muito lembrando dos dias dela, no hospital, mas conforta-me saber que ela está junto de Deus e da sua mãe, que ela não sofre mais”.

Ao terminar, Antónia Generosa salientou que já pensou e investigou a respeito do caso da mãe e da irmã para saber se é hereditário e reforçou que tem sido observada e faz o rastreio com frequência. A jovem guerreira concluiu aconselhando: “Aproveite os seus pais, sua vida, diga que você ama hoje. A vida é um sopro, se você tem um ente querido passando pelo câncer, dê amor, atenção e apoio”.

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