Até pouco depois dos anos 80, o pedido ou alambamento consistia apenas em pedir a mão da namorada à família, mais propriamente ao tio, que tem um papel fundamental para que o casamento de concretize. Pedia-se geralmente uma muda de pano para a mãe ou tia da rapariga, um garrafão de vinho para os pais e os tios e alguns valores na carta do pedido. Nos dias de hoje, o alambamento é uma “fortuna”. Algumas famílias exigem ao noivo valores exorbitantes.
E como se formou a palavra alambamento entre os angolanos
Alambamento é um neologismo que os angolanos criaram para preencher a lacuna verificada na língua portuguesa para designar ovilombo (pedido de casamento) em umbundu; ovilombo vem do verbo umbundu okulomba (pedir). Há quem refira ainda que alambamento vem da palavra umbundu okulemba (alegrar para consolar), por isso alguns pronunciam alembamento em vez de alambamento, porque a retirada da filha para o seu novo lar pode causar alguma tristeza aos pais, e há que consolá-los (com um presente) _ explicam assim, alguns filólogos a etimologia da palavra alambamento.
Mas, acima de tudo, o alambamento é visto pelos africanos como um prémio à noiva pelo seu bom comportamento pessoal e pelo de seus pais que a criaram, porque não é muito fácil educar uma filha em virtudes, dadas as muitas tentações na vida que a espreitam. O bom comportamento dela pressupõe o bom comportamento dos seus pais, pelo que todos devem ser premiados: a filha e os seus pais! Esse prémio é que é o alambamento!
como acontece o alambamento?
Quando o jovem casal de namorados decide casar, é necessário ter a autorização da família da noiva e isso só é possível se, durante o pedido, toda a gente estiver de acordo em que o casamento se concretize. O jovem casal solicita o dia do pedido, mas a data é marcada pelos tios da noiva, pois é necessário reunir toda a família. É entregue uma lista contendo o que o noivo tem de conseguir reunir até ao dia do pedido.
Depois da marcação do dia do alambamento o noivo parte em busca de todo o material para que no dia não falte nada.
Quando chega o dia, a família do noivo vai a casa da noiva e o tio da mesma, como se de um juiz se tratasse, apresenta todos e informa de que se vai dar início ao pedido de casamento. O tio dá início à leitura do pedido apresentado pelo noivo. Se o pai da noiva concordar com o pedido, o noivo terá de ir buscar o alambamento, ou seja, aquela lista de coisas que reuniu. O alambamento é apresentado e se tudo for cumprido é feita uma reunião para acertar a data do casamento e outros detalhes de natureza logística. Posto isto tudo, canta-se e dança-se. A partir deste dia, se tudo correr bem, o casal de namorados passam a ser marido e mulher.
Há casos em que o noivo é colocado diante de três mulheres totalmente forradas de panos para descobrir quem é a sua mulher, se errar vai pagando valor monetários ate que acerte.
O alambamento não é mais do que o pagamento da mão da noiva. O papel dos tios é tanto ou mais importante do que o dos pais, pois os tios são também responsáveis pela educação da noiva.
Actualmente esta tradição está em declínio, mas ainda há famílias conservadoras que fazem cumprir a tradição e não cedem a mão da filha sem que seja tudo cumprido à risca. Há também aquelas que se aproveitam do ritual para tirar vantagem e fazer exigências imperceptíveis pela mão de sua filha. Há cartas de pedidos que exigem gerador, pacote de parabólica televisiva, terrenos com medidas exactas, motas e outros itens absurdos que fazem do ritual um vandalismo.
A nossa tradição é a nossa identidade. É ela que nos define, por isso deve ser cumprida inquestionavelmente e passada de geração em geração. Só não vale usar este facto como argumento para fazer exigências exorbitantes e no fim de tudo o ritual perder o seu real significado e valor.