A venda de divisas aos bancos comerciais angolanos pelos clientes aumentou mais de 82 por cento no mês de maio, face a abril, enquanto as vendas do Banco Nacional de Angola (BNA) desceram para 1.300 milhões de dólares.
De acordo com dados do BNA, compilados hoje pela agência Lusa, os clientes venderam aos bancos angolanos, em todo o mês de maio, 206 milhões de dólares em divisas (183 milhões de euros).
Já as vendas do BNA, em leilões semanais, ascenderam a 1.300 milhões de dólares (1,1 mil milhões de euros), cerca de 86% do total de compras da banca comercial (em abril representaram 92%).
Estes números representam uma quebra mensal nas vendas de divisas diretamente pelo banco central superior a 4%, mas uma subida, quase para o dobro, das vendas pelos clientes, tendo em conta os 113 milhões de dólares (100 milhões de euros) de abril.
Em causa está a crise da cotação internacional do barril de crude, que tem vindo a diminuir a entrada de divisas em Angola e, por consequência, o acesso a moeda estrangeira.
Angola tinha assistido até agora a uma consecutiva quebra na venda de divisas dos clientes aos bancos, comprovando a escassez do acesso a dólares, apenas possível no mercado informal. É que em setembro do ano passado, antes do agravamento da crise petrolífera, e também segundo dados do BNA, mais de 61% das divisas compradas pela banca angolana foram asseguradas junto dos próprios clientes.
Atualmente, os levantamentos de dólares, moeda utilizada para pagamentos ao exterior e no mercado interno informal, continuam a apresentar constrangimentos aos balcões dos bancos comerciais, como limitações nos valores. É também praticamente impossível concretizar este tipo de operações no mesmo dia, realizadas apenas sob reserva das quantias.
Entretanto, o BNA começou em junho a aumentar a injeção de divisas na banca comercial angolana, em linha com o anúncio feito no final de maio pelo governador do banco central, José Pedro de Morais Júnior, de medidas para “descomprimir” a atual crise cambial no país.
José Pedro de Morais Júnior reconheceu na altura que a redução de 30% por cento na injeção de divisas por parte do BNA na banca comercial, que se regista desde o início do ano, por comparação com 2014, devido à quebra nas receitas com a exportação de petróleo, está a refletir-se na atividade empresarial do país.
“O BNA recebeu mandato [do Governo] para tomar as medidas necessárias para descomprimir, na medida do possível, esta pressão ao nível do mercado cambial, para evitarmos situações de roturas de ‘stock’, para resolvermos alguns problemas que se começam a colocar com grande acuidade a nível dos operadores económicos”, apontou José Pedro de Morais Júnior.
Com a redução das receitas do petróleo, também a entrada de divisas (dólares) no país está em queda, complicando as necessidades de moeda estrangeira que Angola tem para garantir as importações, de alimentos a matéria-prima e máquinas.
Alguns empresários admitiram nas últimas semanas a possibilidade de pararem a produção devido à falta de matéria-prima, tendo em conta os atrasos nos pagamentos de faturas internacionais, dependentes da disponibilização de divisas.
“Com as medidas que vamos tomar, cremos que a situação se vai começar a resolver paulatinamente”, disse o governador.
AR/Lusa