Sonangol perdeu metade dos lucros com a exportação de petróleo num ano


As receitas da petrolífera angolana Sonangol com a exportação de crude caíram para mais de metade em 2015, face ao ano anterior, para 918 mil milhões de kwanzas (5,4 mil milhões de euros), mas acima do orçamentado pelo Estado.

De acordo com um relatório do Ministério das Finanças a que a Lusa teve acesso, este registo ficou acima da previsão incluída no Orçamento Geral do Estado para 2015, que apontava para lucros da concessionária estatal na ordem dos 800 mil milhões de kwanzas (4,7 mil milhões de euros, à taxa de câmbio atual) em todo o ano.

Ainda assim, a receita da Sonangol em 2015 fica muito abaixo do registo do ano anterior, quando arrecadou 1,870 biliões de kwanzas (11 mil milhões de euros), uma quebra de 50,9 por cento, segundo dados do Ministério das Finanças compilados pela Lusa.

Angola vive um ano marcado pela forte crise financeira e económica, decorrente da quebra na cotação internacional do barril de crude, que explica a quebra nos lucros da Sonangol, que está em processo de reestruturação.

Em outubro, no discurso anual do chefe de Estado, na Assembleia Nacional, sobre o Estado da Nação – lido pelo vice-Presidente Manuel Vicente devido a uma “indisposição” de José Eduardo dos Santos – foi anunciada uma reestruturação do grupo Sonangol.

“O Executivo criou também uma Comissão de Avaliação para estudar a situação da Sonangol e do setor dos petróleos e propor as bases da sua reestruturação e um modelo de gestão mais eficaz e eficiente”, disse Manuel Vicente, que foi precisamente Presidente do Conselho de Administração da Sonangol.

O comité criado em 2015 pelo Governo angolano para aumentar a eficiência do setor petrolífero garante que o processo não inclui privatizações de investimentos da Sonangol e que Isabel dos Santos integra a equipa pela sua experiência de 15 anos como empresária.

Em comunicado enviado à Lusa a 22 de janeiro, confirmando então as notícias sobre a presença da empresária angolana nas reuniões entre a administração da Sonangol e consultores internacionais que apoiam a reestruturação, aquele comité estima a apresentação de uma proposta sobre a eficiência do setor petrolífero angolano em março.

Em Portugal, a Sonangol tem participações diretas e indiretas no Millennium BCP e na Galp, enquanto em Angola tem dezenas empresas do grupo em vários setores de atividade, fora do petróleo.

O Governo angolano criou o Comité de Avaliação e Análise para o Aumento da Eficiência do Setor Petrolífero com a missão de elaborar um modelo “mais eficiente” para o setor e para melhorar o desempenho da Sonangol. Foi ainda instituída, igualmente por despacho presidencial de outubro, a comissão de Reajustamento da Organização do Setor dos Petróleos.

A comissão é liderada pelo próprio Presidente da República, José Eduardo dos Santos, e vai decidir sobre as propostas do comité – onde está presente a filha, Isabel dos Santos – para uma “estratégia integrada” e “modelos organizativos eficazes” para “aumentar a eficiência do setor petrolífero nacional”.

No comunicado de janeiro, o comité refere que vai identificar novas formas de organização “que permitam tornar o setor competitivo e atrativo para os operadores internacionais” e “melhorar a performance da Sonangol”, mas também “identificar formas de se estabelecer capacidade de produção interna, de apoio à indústria petrolífera em Angola”, reduzindo as importações.

O comité, confirma a mesma informação, integra consultores nacionais e internacionais, casos do The Boston Consulting Group (BCG), da área do petróleo e gás, pela sociedade de advogados Vieira de Almeida, pela consultora financeira PricewaterhouseCoopers e por uma empresa consultora “com foco nacional, apoiada por Isabel dos Santos”, empresária “com mais de 15 anos de experiência no setor económico e empresarial angolano”, lê-se.

AR/Lusa

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