O conhecido prédio “treme-treme”, propriedade do Grupo Siccal, na rua Rainha Ginga, em Luanda, voltou a abanar na semana passada. Em causa esteve a desactivação de uma viga de um edifício em construção ali ao lado, noticiou o Novo Jornal.
Segundo o Jornal, era proximo das 22h00 quando os moradores do edifício número 1 da rua Rainha Ginga reviveram um episódio de pânico ainda muito presente na memória de quem ali habita desde 1992, quando se reiniciou o confronto armado, no âmbito da guerra civil em Angola. Um projéctil embateu no edifício, fazendo-o abanar.
O susto não era para menos. Afinal era uma vez mais o edifício a ser abalado, desta vez não por um projéctil, mas pela descompressão causada por uma viga de um edifício ao lado ainda em construção. A empresa encarregada da obra, a Soares da Costa, não advertiu ou, pelo menos, notificou os moradores de que iria descomprimir uma das vigas implantadas na obra, e que, como resultado disso, poderia ocorrer alguma oscilação. Quem já se encontrava no prédio foi obrigado a abandonar o edifício em alvoroço, temendo o pior.
NENHUM FERIDO
Moradores contaram ao Novo Jornal que por sorte ninguém saiu ferido da debandada. Acção contínua, um grupo de moradores dirigiu- se ao local da obra na lateral do edifício, tendo sido informados por um dos encarregados de que se tratava de uma situação absolutamente normal, e que não colocava em risco a vida das pessoas nem comprometia a segurança nem a estrutura do edifício.
O Serviço de Bombeiros e a Polícia Nacional, que estiveram no local, teriam recebido as mesmas informações e garantias de que tudo não passou de um simples susto, sem razões para alarme. O encarregado da obra, identificado apenas por Adão, contactado pelo Novo Jornal para prestar esclarecimentos sobre o assunto, mostrou- -se bastante agastado por ter de repetir todas as explicações.
APENAS UM SOLAVANCOZINHO
“Já foi tudo explicado. Tudo já levou a informação. Eu agora não vou andar a repetir-me. Não posso estar a dar de 20 em 20 minutos informações, porque estou muito ocupado. A única coisa é esta: Fizemos um corte a uma viga e ela está em pressão e deu apenas um solavancozinho.
É isso e mais nada”, declarou o encarregado. De acordo com o responsável, a obra tem cada vez mais segurança e os outros edifícios não devem ficar em nada afectados, partindo do facto de que estão neste momento em fase de andar com as lajes para cima.
Quanto ao tremor que se registou no edifício “treme-treme”, o encarregado da obra respondeu: “Se você atirar uma bomba para um sítio qualquer, ela pode fazer um bocadinho de estrondo e não provocar estrago nenhum”.
O SUSTO AOS MORADORES
Joaquim Domingos, um dos moradores do “treme-treme” estava já a dormir, quando se registou o tremor e conta que foi o impacto do estrondo que o despertou. “Senti e levantei-me. Foi como se algo muito pesado tivesse batido no chão”, contou ao Novo Jornal.
Patrícia Andrade, moradora no 11º andar, realçou que a força do impacto da pressão da viga solta foi sentida de tal maneira que não lhe restou outra alternativa senão pôr- -se a caminho das escadas e abandonar o edifício. “Foi como se uma pessoa estivesse sentada numa cadeira e de repente ficasse sem ela”, disse.
O “PÂNICO ORGANIZADO”
O único aspecto positivo, referiu Patrícia Andrade, foi ter havido, entre os moradores, uma gestão pacífica das emoções. “Foi um pânico organizado. As pessoas desciam com os filhos e não houve, por acaso, situações que tenham causado ferimentos a alguém. Se bem que foi mesmo um pânico. Até agora ainda estou com medo”, admitiu.
Ainda segundo Patrícia Andrade, uma segunda viga deve ser solta brevemente, mas a empresa encarregue da construção da obra ainda não avançou uma data exacta em que esta deve ser desactivada, deixando de prevenção os moradores. “Assim as pessoas já não vão conseguir dormir ou ficar à vontade”, afirmou.
“FALTOU ADVERTÊNCIA”
José Achil, presidente da comissão de moradores do treme-treme, afirmou ter feito parte do conjunto de moradores que se deslocou à obra quando se deu o impacto, sendo que as garantias que obtiveram foi a de que um engenheiro da empresa Soares da Costa é aguardado nos próximos dias para determinar quando as outras vigas devem ser descomprimidas.
O responsável lamentou, no entanto, o facto de a empresa não ter advertido os moradores ou notificado sobre a probabilidade de essa situação voltar a ocorrer. “Estava a jantar quando se ouviu o estrondo. Senti e achei que fosse uma coisa que tivesse batido, mas quando fui à janela vi que todo o mundo estava aqui em baixo e tive também de descer, porque a minha mulher pressionou-me”, concluiu.
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