Preços da alimentação, saúde e vestuário, quase que duplicaram em quatro anos


Especialistas reconhecem a alta dos preços, como resultado da fraca capacidade de produção interna. A desvalorização cambial é outro catalisador da alta dos preços. O aumento da produção interna e incentivos aos agricultores, pode ser o mote para refrear a espira dos preços dos bens essenciais.

Foto: DR

Os preços da alimentação, da saúde e do vestuário quase que duplicaram desde o início da pandemia da Covid-19 no país, em 2020, de acordo com os cálculos do Expansão com base nos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre o Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN).

Nos últimos quatro anos, comer, consultar um médico e comprar medicamentos, bem como vestir, coisas básicas na vida de uma pessoa, ficou muito mais caro, uma realidade que indica que a maioria das famílias angolanas acaba por gastar a maior parte dos seus rendimentos em coisas essenciais, não restando praticamente nada para poupança ou cultura, por exemplo.

Só para se ter uma ideia, de 2020 a 2023, os custos com a saúde subiram 87,9%, enquanto os da alimentação e bebidas não alcoólicas aumentaram 84,8%, e os do vestuário e calçado registaram uma subida de 82,0%.

A subida exponencial dos preços de bens essenciais contrasta, por outro lado, com subidas mais “macias” dos preços médios das classes como a habitação e combustíveis (37,6%) e as comunicações (25,7%). Isto acontece porque os preços dos combustíveis são subsidiados pelo Estado e ao longo destes quatro anos apenas a gasolina aumentou (em Junho do ano passado), e os preços das telecomunicações apenas podem aumentar mediante autorização do supervisor do sector. Ou seja, destas classes acabaram por estar mais controlados e fora daquilo que é a lógica de mercado, que é quando a oferta diminuiu os preços aumentaram. E foi isso, precisamente, que foi acontecendo nos bens essenciais como a alimentação ou os medicamentos, produtos que são maioritariamente ou na totalidade importados, e sujeitos às variações de uma moeda nacional que desde 2018 (inicio da reforma cambial) já depreciou 75% face ao dólar.

Apesar destes aumentos nos preços dos bens básicos, os salários não registaram aumentos suficientes para compensar o poder de compra das famílias. Basta olhar para os salários mínimos nacionais, que desde 2020 apenas subiram uma vez, em 50%, o que significa que este aumento foi incapaz de compensar a perda do poder de compra.

Angola é um dos países do mundo com mais pessoas a viver em pobreza extrema. Segundo o World Poverty Clock (relógio da pobreza mundial em tradução livre), um site financiado pelo Governo da Alemanha, no final do ano passado 11.160.949 angolanos, equivalente a 31% da população do país, estavam em pobreza extrema, ou seja, tinham menos de 2,15 USD por dia para despesas básicas, entre elas, a alimentação. E este número não tem parado de crescer. Só para se ter uma ideia, de acordo com este aplicativo financiado pelo Ministério para Cooperação e Desenvolvimento da Alemanha, no ano em que Angola deu início a um ciclo de cinco recessões económicas consecutivas (2016 a 2020), o país tinha 6.602.520 cidadãos em pobreza extrema, equivalente a 28% da população. Hoje são mais 4.558.429. O facto de a economia nacional estar sistematicamente a crescer menos do que a população significa que Angola tem estado a “produzir” cada vez mais pobres, já que a economia não consegue gerar empregos em número suficiente para a quantidade de pessoas que entram em idade activa. E a inflação, que é uma espécie de imposto escondido, tem a sua quota parte no empobrecimento dos angolanos.

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