Preço do barril de petróleo cai para USD 46


O preço do barril de petróleo Brent, para entrega em junho, abriu hoje em baixa no mercado de futuros de Londres, a valer 46,80 dólares, menos 1,20% do que no fecho da sessão anterior.

O preço do barril de petróleo, depois de literalmente afundar em Janeiro e Fevereiro, encetou em Março uma ligeira recuperação e surpreende tudo e todos em Abril, ao encetar nos últimos dias um verdadeiro ‘rally’, como se diz na gíria dos mercados, tocando o máximo deste ano e de há muitos meses ao galgar a barreira de USD 47. Algum que ninguém imaginaria há bem pouco tempo. A pergunta que se segue é a mesma de sempre: por quanto tempo? Uma pergunta, que também como sempre, não tem resposta categórica.

Na sexta-feira, o barril de crude Brent encerrou no mercado de futuros de Londres em baixa de 0,02%, para os 48,13 dólares.

Há vários factores que empurram o preço da matéria-prima energética para a recuperação. A fundamental é o reequilíbrio entre a oferta e a procura que se vem reinstalando no mercado, graças sobretudo à quebra da produção norte-americana, conseguida a partir da fracturação do xisto, que se reduziu em cerca de 300 mil barris diários desde o início do ano. É preciso, no entanto, não perder de vista que a produção petrolífera dos Estados Unidos aumentou, em resultado do início da produção de petróleo a partir do xisto, em 5 milhões de barris diários, chegando a atingir 9,3 milhões de barris por dia.

A quebra do preço fez recuar a produção norte-americana para 8,3 milhões de barris por dia, mas, mesmo assim, o país continua a produzir mais 80% de petróleo que há uma década. E, além disso, a produção norte-americana saberá tirar partido de uma evolução do preço do barril que compense o seu custo de exploração. Se juntarmos à produção de petróleo bruto os produtos equivalentes, ainda são os Estados Unidos a levar a dianteira, superando os outros gigantes: Rússia e Arábia Saudita. Do ponto de vista da produção agregada de petróleo bruto e derivados, os Estados Unidos produzem 14,8 milhões de barris por dia, a Arábia Saudita 11,7 milhões e a Rússia 11,5 milhões.

E Arábia Saudita e Rússia já demonstraram que podem colocar mais petróleo no mercado do que estão a fazer. Há a acrescentar a crescente oferta iraniana, país que, com o termo das sanções que sobre ele recaiam, tenta reassumir o seu lugar de segundo produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a OPEP.

Se os sauditas congelarem a respectiva produção o Irão disporá de maior quota de mercado. Há uma alteração estratégica no jogo do petróleo. Durante largos anos o volume da oferta dependeu das decisões da OPEP. Hoje escapa- se-lhe, a organização deixou de dominar o mercado. O que não significa que o mercado não tenda para um maior equilíbrio e a prova disso está na evolução, favorável aos produtores, do preço do barril. Parece mesmo caminhar para USD 50 por barril, um valor que já dá confiança aos investidores.

As grandes companhias dispõem- se a reinvestir, após cortes brutais nos respectivos custos. Só o ano passado, em termos globais, a indústria petrolífera efectuou cortes da ordem de USD 100 mil milhões. Valerá a pena fazer investimentos assentes nesse preço. E muitas das grandes companhias, incluindo a BP, vão afirmando que com o preço do barril a USD 50 valerá a pena perfurar e que será gerado ‘cash-flow’ suficiente para pagar dividendos sem recorrer a endividamento. Há assim no mercado fortes pressões para o preço suba. Há ainda que ter em conta, a compensar a menor procura do mercado asiático, o facto de a Índia estar a importar mais petróleo bruto, face ao declínio da produção própria – acusava uma quebra de cerca de 10 mil barris diários no final de Março.

O país ultrapassou o Japão e já se posiciona como o terceiro maior consumidor da matéria-prima. As suas importações de petróleo aumentaram perto de 7%, ultrapassando 4 milhões de barris por dia. O preço já está acima do valor que tocou durante a crise de 2009 (em Janeiro desse ano caiu para USD 41,68). E, a partir daí, em dois anos recuperou para perto dos USD 100. Se olharmos para a evolução do preço do barril nas duas últimas semanas constatamos que ele mostra tendência para subir. Apesar dos naturais solavancos diários, desde o início de Abril o barril de Brent ganhou cerca de USD 9.

A média mensal está quase em USD 43. Um eventual encontro de produtores agora no mês de Maio na Rússia alimenta expectativas positivas quanto à subida do preço. O ministro iraquiano do petróleo já anunciou o encontro, o que não deixa de ser, no mínimo, significativo, já que o Iraque é dos países que mais tem aumentado a sua produção no seio da OPEP. Aliás, a produção fora dos Estados Unidos tem aumentado o que leva Edward Bell, analista de commodities do banco NBD, sedeado no Dubai, citado pela Dow Jones, que ‘as conversações sobre o congelamento (dos preços) são uma forma barata de fazer mover os preços’.

Arábia Saudita, Rússia e outros produtores já se encontraram em Doha, no Qatar, por duas vezes. A primeira, em Janeiro, quando chegaram à promissora conclusão de que poderiam congelar os preços com o acordo de outros produtores, e depois novamente em Doha, a 17 de Abril, quando os sauditas inviabilizaram um acordo de congelamento face à recusa iraniana de se comprometer com a medida. Um improvável entendimento entre produtores, em todo o caso, uma possibilidade que continua a pairar e que empurra o preço do barril do crude para cima. Toda a prudência não é pouca, mas muitos analistas consideram que o mercado reencontrará o equilíbrio após o terceiro ou quarto trimestres deste ano, o que significa que o preço do barril poderá estabilizar em torno de USD 50. E que no próximo ano os ventos soprarão de feição a quem produz.

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