Mundo das drogas faz Caló Pascoal perder o foco da vida


Caló Pascoal chegou às paradas do sucesso nos anos 90, numa época em que, como kudurista, se tornou uma das estrelas dos Necaf Brothers. O deslumbramento com a fama e o uso de drogas fizeram-no perder o foco da vida e embarcar num Mundo quase sem volta. Uma grave doença por pouco tirou-lhe a vida.

Caló Pascoal

Aos 38 anos e na plenitude da maturidade profissional, o músico falou em entrevista a Angop sobre a vida pessoal, os passos que sua carreira teve e os novos projectos, além de apontar caminhos para a melhoria do mercado discográfico angolano.

Já foi dançarino, DJ e cantor. Como te descreves enquanto artista?

Caló Pascoal: “Com estas qualidades todas e com maior destaque para a produção e, de certa forma, intérprete. Devo dizer que existe um princípio fundamental no meio de todos os que fazem esta arte. Concretamente, o Caló Pascoal tem um princípio fundamental: a humildade e ter Deus acima de todas as coisas. Só assim se consegue levar a bom porto os diferentes projectos. O Caló Pascoal é definitivamente músico e produtor. É assim que me defino. Mas, se tudo correr bem, dentro de muito pouco tempo também jurista”.

O ano de 2003 marca uma viragem importante para ti. Saíste de uma vida atribulada, estiveste à beira da morte, tomado por drogas e doenças. A que se deveu essa fase menos boa? Era o começo de um novo Caló?

CP: Foi o período negro da minha vida, que começou com a morte do meu irmão mais velho, líder da família, depois da morte do meu pai. A família ficou um pouco desnorteada e isto mexeu comigo. Foi uma fase em que me meti nas drogas, bebidas e que me levou quase à morte, devido a tuberculose. A minha segurança foi o meu irmão Nelo, porque se não fosse ele, pela vida que estava a levar, acho que não ia demorar muito para entrar na delinquência.

É uma fase que está já enterrada…

CP: Bem enterrada e não posso chegar e dizer que tenho orgulho daquilo que fui. Não tenho orgulho daquela fase. Foi um passado ruim e bastante péssimo. Faria tudo para que tivesse sido diferente. Graças a Deus, consegui ultrapassá-la e hoje sou o que sou, por muita persistência.

O que espera do novo CD “Caló & Amigos”, que chega às bancas agora em Dezembro?

CP: Dia 14 de Dezembro está no mercado e os grandes retornos já comecei a receber antes mesmo de o álbum sair. Eu começo a receber o retorno a partir do momento em que os artistas que estão a trabalhar comigo manifestam satisfação pelo trabalho que fazem.

O que nos traz de novo neste disco?

CP: Um merengue produzido com os integrantes da banda de Juan Luís Guerra. Em termos de participação, tenho o Matias Damásio, Konde, Camilo Júnior, Kito Nogueira, Guillou, Mário Xicote, ambos antilhanos, Juka, Roger e Philip Monteiro. Na vertente instrumental, conto com Frederic Caracas, Stefan Castro, Dalú Roger, Alex Samba, Pedrito, entre outros nacionais e estrangeiros. É um disco com elevado grau de qualidade, em termos de sonoridade.

Porquê levou tanto tempo a concluir? O estatuto de grande produtor ainda não lhe garante patrocínios com alguma tranquilidade?

CP: O longo espaço de tempo entre um disco e outro tem muito a ver com o facto de procurar ser um perfeccionista em relação ao trabalho que faço. Tive o privilégio de ter muito patrocínio neste trabalho. Deus abriu-me as portas e patrocínios não faltaram para uma obra que vai mexer com o mercado musical angolano.

Este CD sai com a chancela da AQ Produções, Quebra Galho ou mudaste de ares?

CP: A produção é Quebra Galho Music e a edição e distribuição é da AQ Produções e do Clube Mais.

O que pretendes atingir com os projectos “Caló & Amigos” e “Eu e Elas”?

CP:  O Caló & Amigos é documento. É passagem de testemunho. Serve para mostrar que o Caló tem boas relações com todos os artistas angolanos. E mais. Gravar com estes artistas é aprender.

A sua carreira a solo terá novos trabalhos em breve ou ficas por estes projectos colectivos?

CP: O meu quarto álbum a solo vai sair. Estava preocupado com a minha formação. O disco vem em versão de semba.

Falando em semba. Como encaras a música feita actualmente no país, sobretudo pela nova geração?

CP: Está numa fase evolutiva e com muito mercado. Acredito que o esforço feito é salutar e tem estado a contribuir para que a música angolana ganhe cada vez mais espaço no mercado nacional e internacional. Com mais união e parcerias vamos conseguir atingir outros mercados.

Quais as maiores fraquezas dos nossos profissionais?

CP: Não consigo encontrar fraquezas. Agora acho essencial que se preste maior atenção e apoio aos artistas, como forma de incentivo e de reconhecimento. Fazemos um trabalho que tem estado a contribuir bastante para a divulgação da imagem de Angola no exterior. É verdade que o Estado tem feito muito em prol da classe artística angolana, mas pode e deve fazer ainda mais. Promover parcerias, apoiar projectos particulares, porque é caro fazer música.

Como estamos em termos de produção e edição?

CP: A produção é satisfatória e felizmente é acompanhada com a devida qualidade. Ganha o público, porque há produto com qualidade e em grande número.

Caló Pascoal lançou o seu primeiro disco a solo em 2002, com o título “Fé”, que teve como destaque os temas “Está Amarrado” e “Onde Estás Rosita”.

Em 2005 publicou o segundo álbum intitulado “Santa Mariazinha”, que integrou as músicas “Fim do Mundo”, “Titiriti”, “Água da Chuva”, “Kizomba da Madrugada”, “Manteiga”, “Quebra Galho” e outros.

Em 2007, Caló Pascoal lançou o disco “Eu e Elas”, uma parceria com nove vozes femininas. Um ano mais tarde coloca no mercado “Esperança Sagrada”, cujo destaque foi a canção “Meninas de Hoje”, original de Massano Júnior.


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