Morreu Katherine Johnson, a matemática da agência espacial norte-americana que calculou a rota da Apollo que levou a humanidade até à Lua. Tinha 101 anos. A história de Katherine Johnson e das outras mulheres negras nos bastidores da missão lunar foram contadas pela primeira vez no filme “Hidden Figures”, que chegou a estar nomeado para os Óscares em 2017.
O génio matemático de Johnson levou-a do seu trabalho nos bastidores e das instalações segregadas da NASA à fama, apesar de terem sido necessárias décadas para que o seu talento fosse publicamente reconhecido.
“A família da NASA lamenta a morte de Katherine Johnson”, escreveu o administrador Jim Bridenstine no Twitter. “Era uma heroína americana e o seu legado pioneiro nunca será esquecido.”
Johnson recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade das mãos do Presidente Barack Obama em 2015 e em 2016 foi citada no discurso do Estado da União como um exemplo do espírito pioneiro da América.
Johnson e as suas colegas negras da NASA eram conhecidas como “computadores”, numa altura em que o termo não designava uma máquina mas sim as pessoas que faziam cálculos. A sua história e o seu contributo eram praticamente ignorados pelo grande público até serem contados em livro – a obra foi depois adaptada ao cinema na película Elementos Secretos, nomeada para o Óscar de Melhor Filme.
Corria o ano de 1966 quando Katherine Johnson desenhou milimetricamente o percurso da missão Apollo até à Lua com o poder da mente e a ajuda de uma régua, um lápis, folhas de papel e calculadoras rudimentares. “Naquela altura, os computadores vestiam saias”, chegou a dizer entre risos.
Depois de ter construído os pilares matemáticos da missão Mercury de 1961, que fez de Alan B. Shepard Jr. o primeiro norte-americano a passear no espaço, Katherine Johnson foi uma das responsáveis pelo primeiro passo (talvez o mais popular de todos) que colocou os Estados Unidos na linha da frente da Guerra Fria pela primeira vez — a alunagem.
Além dela, outras 29 mulheres afro-americanas compunham parte da equipa de matemática da NASA na Divisão para Investigação de Voo — uma equipa que, em tempos de segregação racial nos Estados Unidos, era colocada à parte dos outros trabalhadores. A história desse grupo de mulheres e o contexto social em que viviam estão na base no filme de Theodore Melfi, em que Katherine Johnson é interpretada por Taraji P. Henson e tem um papel central no enredo.
Quando “Hidden Figures” foi nomeado para os Óscares, Katherine Johnson era a única funcionária daquela equipa da NASA que estava viva. Tinha 98 anos. A matemática foi convidada a assistir à cerimónia da Academia ao lado dos atores do filme e foi recebida no palco com a plateia a aplaudir em pé.