Kinguilas venderam dólar 50% mais caro até Março


A compra de dólares no mercado informal das ‘kinguilas’ ficou 50 por cento mais caro no primeiro trimestre, face a 2014, muito acima das taxas praticadas nos bancos e casas de câmbio, devido à crise do petróleo.

Os números constam de um relatório do Banco Nacional de Angola (BNA) consultado hoje pela Lusa e apontam que quem compra dólares às tradicionais ‘kinguilas’, mulheres que negoceiam divisas na rua, viu a taxa aumentar, em março, 51,8%, para 161,667 kwanzas por cada dólar norte-americano.

Apesar de exercerem a atividade de forma irregular, sem registos das transações ou pagamento de impostos, esta é por vezes a única alternativa face à falta de divisas nos bancos e nas casas de câmbio.

Em causa está a quebra na cotação internacional do barril de crude – que representa 98% das exportações angolanas – e que nos últimos meses fez diminuir as receitas fiscais de Angola e que reduziu drasticamente a entrada de divisas no país.

“Muita, muita, muita procura. E não conseguimos satisfazer a vontade dos clientes”. O desabafo foi feito à Lusa, no final de janeiro, por Ermelinda Evaristo, de 31 anos, uma das centenas de ‘kinguilas’ tradicionais de Luanda.

Há 13 anos que fica sentada, juntamente com algumas colegas, pela zona de Alvalade, no centro de Luanda, mas agora só chegam clientes com kwanzas para comprar os dólares que os bancos não entregam.

“Sempre alimentei a minha família com este negócio. Agora são eles que me ajudam e quase não dá para o pão”, confessava Ermelinda.

Ainda no primeiro trimestre de 2015, segundo um relatório do BNA sobre a inflação no país – influenciada pela falta de divisas para garantir importações de produtos – a taxa oficial de câmbio era de 108,529 kwanzas por cada dólar (aumento de 10,9% no último ano), muito abaixo do valor praticado na rua.

Já comprar um dólar nos bancos – quando possível -, custava em março 111,215 kwanzas (+10,8%) e nas casas de câmbio 145,250 kwanzas (+38%).

Também vender divisas na rua representou fortes ganhos neste período, com as ?kinguilas’ a pagarem por cada dólar, em março, 149,167 kwanzas, um aumento, a doze meses, superior a 45,7%.

“Isto já serviu para sustentar a família antes, formámos filhos neste negócio, mas hoje estarmos aqui sentadas na rua é só para não faltar o pão. O resto já não tem nada. Às vezes nem 100 dólares conseguimos comprar durante um dia”, contou à Lusa, desolada, Marta Gaspar, outra ‘kinguila’ de Luanda.

Entre janeiro e março as casas de câmbio subiram a taxa 25,8%, comprando cada dólar por 127,7 kwanzas, enquanto os bancos apenas pagavam 106,775 kwanzas (9,8%), nesta caso abaixo da taxa de referência do BNA, que era de 107,455 kwanzas.

Angola vive desde dezembro uma crise cambial face à insuficiência de divisas e alguns bancos admitiram nos últimos dias que estão a detetar falsas declarações – para viagens ou tratamentos médicos no estrangeiro -, que permitem acesso prioritário a dólares.

Além disso, algumas empresas angolanas admitem a redução da atividade, por não conseguirem pagar a aquisição no estrangeiro de equipamentos e matéria-prima, enquanto o preço de bens de primeira necessidade tem vindo a aumentar, oficialmente 2,13% no primeiro trimestre.

O país é o segundo maior produtor de petróleo da África subsaariana, com 1,8 milhões de barris de crude diários, mas devido à crise petrolífera atual, o peso petrolífero nas receitas fiscais angolanas deverá descer dos 70% de 2014 para cerca de 36,5% este ano, segundo previsões do Governo.

AR/Lusa

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