Com uma fisionomia feminina, porém com dois sexos, uma jovem angolan que sofre de ”Hermafroditismo”, um problema de má formação congénita que provoca o surgimento de dois órgãos genitais numa só pessoa, clama por ajuda para uma intervenção cirúrgica.
A jovem, Maria Ngueve, de 22 anos de idade, nascida e criada no município da Matala, província da Huíla, procurou um dos meios de comunicação social nacional para pedir ajuda e falar do drama que tem enfrentado ao logo da sua vida. A mesma conta que se apercebeu que era diferente desde muito cedo, pois via que além do órgão feminino que as outras meninas tinham carrega consigo mais um órgão, masculino, revelando que por este motivo chegou a ser apelidada de maria homem, e que as pessoas nem se quer se aproximavam de si.
“Comecei a notar que era diferente das minhas amigas, aos seis ou sete anos, porque elas tinham vagina apenas, mas eu, além deste órgão, tinha, também, o pénis, chamavam de maria homem”, disse.
Maria conta também que foi abandona pelo pais, mas felizmente foi acolhida pela avó que cuida de si desde muito nova.
“Quando os meus pais me abandonaram, fui acolhida pela minha avó, que cuida de mim desde bebé”, lamentou a jovem aos prantos.
Neste momento, a jovem deixou a avó e veio à Luanda, para ver se consegue ajuda para realizar a cirurgia que tanto almeja. Apesar de também acordar com o pénis erecto como qualquer homem, a jovem conta que se identifica com uma mulher porque é o que ela é apesar da sua condição, pois tem o período menstrual regular e urina apenas pela vagina.
“Prometi a mim mesma que, quando fosse grande, sozinha ou com ajuda de gente de boa fé, iria à capital ou ao exterior do país para me tratar. Só quero ser mulher. Embora tenha pénis e ele fique erecto nunca me apaixonei por mulheres, por mais bonitas que sejam. Eu gosto mesmo é de homens. Por isso, quero namorar como as outras raparigas, casar e ter os meus filhos, mas, isso, depende desta cirurgia”, reitera a jovem.
A determinação em procurar ajuda não apaga a tristeza da jovem. “É muito duro viver assim! Não sei quem sou, tenho de vestir sempre roupas largas por baixo só para não descobrirem que sou hermafrodita. Imagine que quero ter um namorado e não posso”.
Durante o seu relato, explicou ainda que chegou a se apaixonar por um jovem há alguns meses, mas que por medo de ser descriminada pela sua condição, sentiu-se obrigada a por fim no relacionamento.
“Com medo dele descobrir a minha situação e me desprezar, fui obrigada a terminar tudo”, lamentou.
Por conta do término, começou a isolar-se, deixou de ir à escola e, inclusive, por duas vezes tentou o suicídio.
“Neste dia, por sorte, a avó estava em casa e evitou o pior”, lembra com mágoa a jovem, que terminou, em 2019, o ensino secundário em Ciências Físicas e Biológicas.
A luta da jovem por uma cirurgia intensificou-se, no ano passado, quando se dirigiu ao Hospital Provincial da Huíla. A gineco-obstetra cubana que a atendeu, por três vezes, compadeceu-se e levou-a à direcção da unidade sanitária, para ter um acompanhamento mais específico.
Por falta de condições para a realização da operação localmente, foi enviada à Luanda, por meio de uma junta médica.
“Vim sozinha aqui e, como não tenho família na capital do país, pedi abrigo a uma ex-colega de escola que vive em Viana”, contou.
Porém, a amiga com quem vive actualmente em Luanda não sabe da sua condição, por medo de ser descriminada e expulsa pela jovem.
“Tenho receio de lhe contar, ser discriminada e expulsa da casa dela. Se ela não tiver informações, pode achar que sou um monstro”, realçou triste.
Maria dirigiu-se a Junta Nacional de Saúde, onde recebeu o processo número 35, e foi indicada para a Maternidade Lucrécia Paim, mas esta unidade não assiste casos do gênero. Mesmo desapontada e cansada, prometeu não desistir.
“Voltei à Junta, para tentar explicar a situação, mas fui informada que a funcionária que acompanha o meu processo viajou. Já se passaram dois anos e a referida senhora nunca regressa”, lamentou a jovem.
A jovem procurou pelos serviços do Hospital Américo Boavida, onde fez uma série de exames e gastou algum dinheiro, mas não recebeu garantias de solução do problema. Depois, acorreu ao Josina Machel, onde foi, também, informada de que nenhuma unidade pública do país assiste casos de hermafroditismo”.
De volta ao Lubango, a avó aconselhou-a a procurar por mais hospitais e a pedir ajuda, através dos órgãos de comunicação social de Luanda. Em Julho deste ano, regressou à capital do país e, no Hospital Geral de Luanda, está a ser seguida por uma equipa de médicos que faz internato. Estes profissionais estão a fazer contactos com direcções de vários hospitais e clínicas locais.
Os médicos apelam, inclusive, a ajuda especial do Ministério da Saúde, para que, dentro das suas possibilidades, intervenham no caso da jovem da Matala, no sentido de ela beneficiar-se da tão desejada cirurgia, que vai mudar o rumo da sua vida. “O Meu projecto de vida é continuar a formação, para poder ajudar pessoas como eu”, realçou.