A empresária angolana Isabel dos Santos, fez saber durante uma entrevista concedida à Rádio Essencial, nesta terça-feira, 16 de Janeiro, que até ao momento não sabe do que está a ser acusada e que os seus advogados desconhecem os processos devido a uma ordem da PGR de Angola.
Um dia após serem divulgados os crimes de que é acusada no processo relacionado a gestão da Sonangol, Isabel dos Santos diz que as autoridades angolanas dão “ordens directas” e instruções às suas congéneres portuguesas nos casos judiciais que a envolvem nos dois países. E com base nisso, estão em curso processos de reclamações dos seus investimentos em Angola e em Portugal.
A empresária frisou também que tem contas e activos arrestados em vários países na sequência de processos judiciais que correm em Angola e noutras jurisdições.
Questionada sobre o que espera das autoridades portuguesas, a empresária afirmou que as decisões e o posicionamento da Justiça portuguesa são “a mando da Justiça angolana”, nomeadamente da Procuradoria-Geral da República e do Serviço de Recuperação de Activos, que “mandam instruções” que são cumpridas pelas contrapartes portuguesas “sem verificar se aquilo é verdade ou mentira”.
Isabel queixou-se ainda do segredo de justiça imposto e de não ter “acesso a nada” e não saber de que é acusada “porque a PGR de Angola não deixa” e dá “ordens diretas às autoridades portuguesas”.
Quanto a Angola, a filha do antigo Presidente angolano José Eduardo dos Santos, salientou que os arrestos decretados no final de 2019 “têm um impacto muito negativo na gestão” das suas antigas empresas, salientando que “a vocação do Estado não é gerir empresas privadas, e sim governar bem o país”.
Em 31 de Dezembro de 2019, o Tribunal Provincial de Luanda decretou o arresto preventivo das contas bancárias pessoais de Isabel dos Santos, do seu falecido esposo Sindika Dokolo e de Mário Leite da Silva, no Banco de Fomento Angola (BFA), Banco Internacional de Crédito (BIC), Banco Angolano de Investimentos (BAI) e Banco Económico, além das participações sociais que os três detém enquanto beneficiários efectivos no BIC, Unitel, BFA e ZAP Media.
O despacho sentença proferido na altura dava como provada a existência de um crédito dos requeridos para com o Estado angolano num valor superior a mil milhões de dólares (894,9 milhões de euros), dívida que os requeridos terão reconhecido, mas alegaram não ter condições para pagar, de acordo com o documento.
Em 19 de Janeiro de 2020, foi revelado pelo Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação, que mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de Luanda Leaks, que detalham alegados esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, lhes terá permitido retirar dinheiro do erário público angolano através de paraísos fiscais.