Segundo um relatório do Banco Mundial, há mais telemóveis em África do que nos Estados Unidos e na Europa, o documento argumenta que os 650 milhões de aparelhos existentes são fundamentais para desenvolver o continente e colmatar a falta de infraestruturas.
“Em alguns países africanos, há mais pessoas com acesso a um telemóvel do que a água corrente, uma conta bancária ou até eletricidade; os telemóveis estão a ser usados como uma plataforma de acesso à internet, a aplicações e a serviços governamentais”, escreve o ICT África, que diz que os 650 milhões de aparelhos móveis existentes no continente no ano passado transformam África na região do mundo em crescimento mais acelerado.
Nos últimos dez anos, África viveu um período de crescimento tão acelerado na utilização das novas tecnologias que o relatório do Banco Mundial chama-lhe mesmo “a década móvel”, e com razão: nos últimos 25 anos, cada 10 pontos de aumento na taxa de penetração dos telemóveis, isto é, na percentagem da população com um destes aparelhos, motivou uma subida de 0,8% no Produto Interno Bruto, a que se junta mais 1,4% quando se trata das redes sem fios.
A forte expansão dos telemóveis em África motiva também o interesse das operadoras de telecomunicações. África, aliás, tem uma enorme variedade de oferta nesta área, com a maior parte dos países a terem pelo menos três empresas nesta área, o que, no total, representa uma subida de mais de 10% na oferta entre 2008 e 2010, período em que o número de operadores passou de 158 para 175. Só a Vodafone, por exemplo, teve receitas superiores a mil milhões de euros nos 12 meses terminados em março deste ano, anunciou a empresa em julho.
Mais de metade destes operadores são afiliados dos grandes grupos mundiais, e para além do ‘know-how’, trazem também muitos milhões: sete dos dez maiores negócios realizados este ano em África dizem respeito às telecomunicações, e de acordo com a consultora Manifest Mind, este setor vai passar de 60 mil milhões de dólares, para mais de 230 mil milhões em 2020, o que representa uma taxa de crescimento média acima de 20%.
Oferecendo emprego a 5 milhões de pessoas e contribuindo com 15 mil milhões de dólares de receitas fiscais para os governos africanos, as telecomunicações melhoram também o ambiente empresarial: “África é agora um país muito mais fácil para se fazer negócios, graças à melhorada interconetividade, e isso acontece porque no continente os telefones móveis são também substitutos para vários tipos de serviços, incluindo transações bancárias, jornais, jogos e e entretenimento, por isso o valor de um telemóvel é mais elevado em África que em qualquer outra parte do mundo”, escreve o Banco Mundial.
De acordo com a consultora BMI – TechKnowledge Group, citada num relatório da PriceWaterhouseCoopers, os investimentos nesta área em África vão chegar, em 2015, aos 145,8 mil milhões de dólares nos últimos quinze anos, o que significa que, nesse ano, o setor das comunicações móveis vai representar dois terços de todo o investimento em telecomunicações em África, o que inclui a ligação por cabo submarino com a Europa e a América do Sul.
A tendência de uma penetração mais acentuada no mercado móvel do que no fixo vai manter-se, “com grande probabilidade, quer devido à maior eficiência financeira, como também devido ao desenvolvimento da tecnologia móvel e à concorrência de fornecedores de equipamento de mais baixo custo (como a Huawei e ZTE), que, com a sua evolução, permitirá acompanhar o crescimento da procura em termos de número de utilizadores e de aumento de utilização individual”, explicou à Lusa o partner da Deloitte para a área das Telcomunicações e Media.
Miguel Eiras Antunes diz que “a adopção das tecnologias mais avançadas prende-se com o facto de África não ter realizado, no passado, investimentos em tecnologia associada ao ramo fixo e de menor capacidade e mais cara, permite agora que não tenha que rentabilizar esses investimentos e activos, o que permite este ‘leapfrogging’ tecnológico sem necessidade de passar por todos os ciclos tecnológicos que os operadores ocidentais passaram”.
Por outro lado, o continente vai beneficiar dos “investimentos em circuitos de ligação internacional” e da “inovação e adopção de serviços inovadores” pelo efeito de compensação da ausência de estruturas físicas das autoridades.