O Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) de Angola admite que o país entrou num período de desaceleração estrutural do crescimento e que apenas crescerá a cerca de dois por cento ao ano até 2020.
A posição foi transmitida hoje pelo diretor do CEIC, Alves da Rocha, durante a apresentação do Relatório Económico de 2015, elaborado por aquela instituição da Universidade Católica de Angola, tido como o mais relevante do género no país.
“Desde 2009, após a mini-idade de ouro de intenso crescimento económico, assistimos a uma desaceleração estrutural da economia, ano após ano. Estamos convencidos desta atenuação do crescimento da economia e neste momento não vislumbramos condições para que o país retome as taxas de crescimento do passado”, apontou o académico.
Angola é atualmente o maior produtor de petróleo de África, com 1,7 milhões de barris de crude por dia, mas enfrenta desde o final de 2014 uma profunda crise financeira, económica e cambial, decorrente da quebra para metade nas receitas com a exportação petrolífera.
No Relatório Económico, apresentando hoje em Luanda juntamente com o Relatório Social também de 2015, o CEIC faz projeções do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) angolano até 2020, que não deverá passar uma taxa média de anual “à volta dos 02 a 2,5%”.
“Pensamos que Angola está a entrar num período de desaceleração estrutural do crescimento, é uma situação de enorme preocupação para nós, no CEIC”, assume Alves da Rocha, recordando a importância do petróleo nas contas angolanas, que só em 2008 permitiu uma taxa de crescimento económico de 12,8%.
Com uma reforma tributária e outros impostos entretanto criados “insuficientes” para cobrir a quebra nas receitas petrolíferas, o economista não tem dúvidas em classificar o momento que o país atravessa: “A crise do petróleo é mãe de todas as crises em Angola”.
Entre 2002 e 2015, recordou, Angola registou “fantásticas receitas do petróleo” de 538 mil milhões de dólares (486 mil milhões de euros) e 320 mil milhões de dólares (289 mil milhões de euros) em receitas fiscais, cenário que a crise petrolífera – o crude representa cerca de 98% das exportações angolanas – veio entretanto comprometer.
“O país perdeu muitas oportunidades para melhorar substancialmente a qualidade de vida em Angola”, afirma.
Ainda de acordo com o CEIC, Angola acumulou um saldo orçamental de 33 mil milhões de dólares (29,8 mil milhões de euros), apesar dos recentes défices das contas públicas, como o de 06% que o Governo prevê para este ano, a financiar com endividamento público.
“Nós de facto tivemos muito dinheiro”, observou.
Além de uma verdadeira aposta na diversificação da economia angolana, o diretor do CEIC refere a necessidade de medidas para corrigir o modelo de distribuição de riqueza no país, que “está inquinado”.
Alertou igualmente, como preocupação do CEIC após a análise a todos os indicadores de 2015, para o “contágio” da crise ao sistema bancário, “que vive da concessão de crédito, atualmente com taxas de juro de 17%, e do negócio das divisas, que “simplesmente não as há”.
“O país não está em recessão, nem há nenhuma indicação que possa entrar em recessão, com os dados que temos. O mesmo não podemos dizer do PIB petrolífero”, admitiu o economista e académico angolano, diretor do CEIC.
Concluiu apontando que a taxa de inflação em Angola pode chegar este ano aos 50%, estando já acima dos 30% até junho, face aos 12 meses anteriores.
Com Lusa