Dólar no mercado informal de Luanda termina junho estabilizado nos 570 kwanzas


O preço de um dólar norte-americano nas ruas de Luanda estabilizou há mais de uma semana nos 570 kwanzas, um valor que continua a ser três vezes e meio mais alto do que a taxa oficial de câmbio.

Numa ronda feita hoje pelas ruas da capital angolana, a agência Lusa constatou, contudo, relatos de um alegado abrandamento da vigilância policial sobre quem faz a negociação de dólares na rua, uma prática ilegal mas a única alternativa face à falta de divisas nos bancos.

Mesmo por entre receios e apreensão, tendo em conta as detenções conhecidas no início do mês, a Lusa encontrou quem vendesse dólares um pouco por toda a cidade.

É o caso do bairro do São Paulo, onde comprar uma nota de dólar custava hoje entre 570 kwanzas, semelhante aos preços praticados na Mutamba ou no bairro do Prenda. No Mártires de Kifangondo, outro dos pontos centrais de Luanda para a venda de dólares na rua, as ‘kinguilas’ – como são conhecidas as mulheres que se dedicam a este negócio – pediam 575 kwanzas para vender a nota de um dólar.

Na prática, há mais de uma semana que os preços do mercado de rua seguem inalterados.

Algumas dessas ‘kinguilas’ confirmaram à Lusa a tendência de queda dos preços, face aos mais de 600 kwanzas que chegaram a ser pedidos na primeira quinzena de junho.

A “falta de dólar” continua a ser a justificação para os preços ainda assim especulativos de quem vende, que, em muitos casos, como trabalhadores expatriados, é a única forma de ter acesso a divisas no atual contexto de crise económica, financeira e cambial, decorrente da quebra nas receitas petrolíferas.

Só desde setembro de 2014, a moeda nacional angolana desvalorizou-se em mais de 40%, face ao dólar norte-americano, para 166 kwanzas para um dólar, à taxa oficial, muito longe dos valores do mercado paralelo.

O Banco Nacional de Angola (BNA) recomendou em maio um “maior controlo e responsabilização dos agentes promotores do mercado informal de moeda estrangeira” por parte da polícia.

A preocupação com as consequências da situação cambial atual foi enfatizada a 14 de junho por Ricardo Velloso, chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) que esteve em Luanda a conduzir negociações, ainda não concluídas, para um programa de assistência solicitada pelo Governo angolano.

“Não olhamos a taxa de câmbio no mercado paralelo como uma indicação do que deve ser a taxa de câmbio oficial, ainda há muita especulação e pressão pontual nesse mercado, que é muito limitado. Mas há espaço, do ponto de vista da taxa oficial, para mais ação por parte do BNA, para diminuir a pressão que existe”, apontou o economista brasileiro.

Admitiu igualmente que as “restrições administrativas existentes para aceder a divisas à taxa oficial”, tendo em conta que os bancos não disponibilizam e os leilões do BNA são reduzidos face à procura, “constituem um constrangimento à atividade e diversificação económicas” e “precisarão de ser levantadas gradualmente”.

“A nossa recomendação também é que o BNA use um pouco mais das suas reservas internacionais para diminuir a pressão que existe a curto prazo”, disse.

As Reservas Internacionais Líquidas (RIL) angolanas – moeda estrangeira que permite nomeadamente a aquisição ao exterior de matéria-prima para as indústrias e produtos alimentares – caíram cerca de seis mil milhões de euros desde 2014, cifrando-se em maio nos 24.408 milhões de dólares (21,6 mil milhões de euros).

Lusa

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