O preço de um dólar norte-americano nas ruas de Luanda desceu cerca de cinco por cento nos últimos dias, para 570 kwanzas (três euros), mas segue três vezes e meio acima da taxa oficial do país.
Numa ronda feita hoje pelas ruas da capital angolana, a agência Lusa continua a constatar o crescente receio de quem faz a negociação de dólares na rua, uma prática ilegal mas a única alternativa face à falta de divisas nos bancos, visivelmente vigiados por agentes da polícia.
Apesar dos receios e da forte apreensão, a Lusa acabou por encontrar quem vendesse dólares um pouco por toda a cidade, embora com receios redobrados e relatos do apertar da vigilância policial.
É o caso do bairro do São Paulo, onde comprar uma nota de dólar custava hoje entre 570 kwanzas, semelhante aos preços praticados no Mártires de Kifangondo, ou na Mutamba. No bairro do Prenda, outro dos pontos centrais de Luanda para a venda de dólares na rua, as ‘kinguilas’ – como são conhecidas as mulheres que se dedicam a este negócio – pediam 560 kwanzas para vender a nota de um dólar.
Algumas dessas ‘kinguilas’ confirmaram à Lusa a tendência de queda dos preços nos últimos dias, face aos 600 kwanzas pedidos em média há uma semana, alegando que “começa a aparecer mais nota”.
Receando detenções e as ações de fiscalização da polícia à civil, quem vende desconfia de qualquer abordagem, por recear tratar-se de polícias à civil, alegando sempre que a venda que estão a fazer é de “saldo” (recarregamento do saldo do telemóvel) e não de dólares.
A “falta de dólar” continua a ser a justificação que se ouve nas ruas de Luanda para os preços ainda assim especulativos de quem vende, que em muitos casos, como trabalhadores expatriados, é a única forma de ter acesso a divisas no atual contexto de crise económica, financeira e cambial, decorrente da quebra nas receitas petrolíferas.
O Banco Nacional de Angola (BNA) recomendou em maio um “maior controlo e responsabilização dos agentes promotores do mercado informal de moeda estrangeira” por parte da polícia.
A preocupação com as consequências da situação atual foi enfatizada a 14 de junho pelo chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) que esteve em Luanda a conduzir negociações, ainda não concluídas, para um programa de assistência solicitada pelo Governo angolano.
Só desde setembro de 2014, a moeda nacional angolana desvalorizou-se, recordou Ricardo Velloso, em mais de 40%, face ao dólar norte-americano, para 166 kwanzas para um dólar, à taxa oficial, muito longe dos valores do mercado paralelo.
“Não olhamos a taxa de câmbio no mercado paralelo como uma indicação do que deve ser a taxa de câmbio oficial, ainda há muita especulação e pressão pontual nesse mercado, que é muito limitado. Mas há espaço, do ponto de vista da taxa oficial, para mais ação por parte do Banco Nacional de Angola [BNA], para diminuir a pressão que existe”, apontou o economista brasileiro.
Admitiu igualmente que as “restrições administrativas existentes para aceder a divisas à taxa oficial”, tendo em conta que os bancos não disponibilizam e os leilões do BNA são reduzidos face à procura, “constituem um constrangimento à atividade e diversificação económicas” e “precisarão de ser levantadas gradualmente”.
“A nossa recomendação também é que o BNA use um pouco mais das suas reservas internacionais para diminuir a pressão que existe a curto prazo”, disse.
As Reservas Internacionais Líquidas (RIL) angolanas – moeda estrangeira que permite nomeadamente a aquisição ao exterior de matéria-prima para as indústrias e produtos alimentares – caíram cerca de seis mil milhões de euros desde 2014, cifrando-se em maio nos 24.408 milhões de dólares (21,6 mil milhões de euros).
Contudo, na última semana, entre 13 e 17 de junho, a injeção de divisas pelo BNA na banca comercial caiu quase 75 por cento, para 56 milhões de euros, com vendas apenas em moeda europeia.
Lusa