O Cine São Paulo foi inaugurado no fim dos anos 60 com um novo conceito: casa de música, sala de cinema e festas. Perto, no coração do Bairro de São Paulo, estava o velho Cine Colonial que deixou de exibir filmes depois da Independência Nacional e acabou por desaparecer.
Naquela sala passavam filmes de acção, sobretudo os “western” de John Wayne, Gary Cooper, Glenn Ford ou James Cagney.O Cine Colonial era a “segunda casa” dos moradores de São Paulo, Bairro Operário, Rangel, Marçal e Sambizanga. Tinha bancos corridos de madeira até ao meio da sala e daí para a frente eram de cimento. Os clientes chamavam a essa área, a “pedra fria”. Todas as sessões eram vigiadas por polícias à paisana ou agentes da PIDE.
A “acção” no ecrã desencadeava o sonho de passar ao ataque contra o regime colonialista. Os clientes do “Clo Clo” eram uma família! O edifício foi demolido e hoje é uma oficina de automóveis! Albino de Abreu nasceu no Bairro Operário. Com 76 anos, tem seis filhos, 14 netos e 16 bisnetos.
Frequentou o Cine Colonial e contou que ver filmes naquela altura “era uma coisa do outro mundo”. Os negros eram a maioria esmagadora dos espectadores. De segunda a sexta, contou Albino de Abreu, os filmes eram exibidos à noite. Aos sábados e domingos, havia duas sessões, uma à tarde e outra à noite. Por sessão de cinema, pagava-se cinco escudos nos bancos de madeira, com costas, e 2$50 no cimento, que só tinha assentos. O mais velho lamentou a demolição da sala. Trabalhador da empresa construída no terreno do Cine Colonial, Albino de Abreu disse que há informações de que o cinema vai ser construído de novo e com as mesmas estruturas.
No pólo oposto estaca o elegante Cine Restauração, onde funciona hoje a Assembleia Nacional. Era sede de um famoso programa rádio publicitário, o “Chá das Seis”, que lançou para o estrelato Alice Cruz e Artur Peres, os apresentadores. O Cine Teatro Nacional, hoje Chá de Caxinde, passava filmes em “reprise” e era a sede do grupo de teatro infantil da madame Cremilda Torres. O edifício é património histórico-cultural desde 1994. A sala de cinema ainda existe mas não passa filmes regularmente.
Luanda tinha ainda o Cine Tropical que em vez de filas de cadeiras tinha com mesas, cadeiras, uma pista de dança e fosso de orquestra. Partilhava os jardins com o Rádio Clube de Angola. Nos anos 60 surgiu a “moda” das esplanadas.
Primeiro, o Miramar, no bairro mais elegante da cidade e com vistas para a Baía. Cinema ao ar livre. Depois veio o Avis (Carl Marx), Cine Atlântico, Tivoli e todos os outros. Hoje não passam fitas. Estamos na “moda” dos shoping!
Por:Jornal de Angola
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