BNA tenta travar crise cambial com injeção recorde de dólares


O Banco Nacional de Angola (BNA) aumentou na última semana o volume da venda de divisas à banca comercial angolana em mais de 134 por cento, para 936 milhões de dólares (840 milhões de euros).

A medida está em linha com o anúncio feito a 28 de maio pelo governador do BNA, José Pedro de Morais Júnior, sobre o aumento do número de leilões semanais de divisas à banca comercial, uma das medidas previstas, por instrução do Governo, para “descomprimir” a atual crise cambial no país.

De acordo com o relatório semanal sobre a evolução dos mercados monetário e cambial do BNA, ao qual a Lusa teve acesso ontem, as vendas de divisas entre 01 e 06 de junho foram concretizadas a uma taxa média de referência do mercado cambial interbancário de 117,473 kwanzas (90 cêntimos) por cada dólar.

Esta taxa de câmbio corresponde a uma desvalorização semanal do kwanza de cerca de 6%, concretizada pelo BNA apenas entre quinta e sexta-feira, outra medida adotada tendo em conta o atual mercado cambial, neste caso para travar a especulação (a compra pelos clientes chega a 180 kwanzas por cada dólar) sobre divisas no mercado informal, alternativa face à escassez de moeda estrangeira nos bancos.

A injeção de divisas na banca angolana na primeira semana de junho representa máximos de um ano, contrastando com os 400 milhões de dólares vendidos pelo BNA na semana anterior, o que por si só já tinha representado um aumento semanal superior a 30%.

Com a redução das receitas do petróleo, situação que se vem a agravar desde outubro, também a entrada de divisas (dólares) no país está em queda, complicando as necessidades de moeda estrangeira que Angola tem para garantir as importações, de alimentos a matéria-prima e máquinas.

Desde o início do ano, as vendas semanais do BNA chegaram a ser de menos de 200 milhões de dólares.

O Governador do banco central reconheceu, no final de maio, que a redução de 30% na injeção de divisas por parte do BNA na banca comercial, que se regista desde o início do ano, por comparação com 2014, devido à quebra nas receitas com a exportação de petróleo, está a refletir-se na atividade empresarial do país.

“O BNA recebeu mandato [do Governo] para tomar as medidas necessárias para descomprimir, na medida do possível, esta pressão ao nível do mercado cambial, para evitarmos situações de roturas de ‘stock’, para resolvermos alguns problemas que se começam a colocar com grande acuidade a nível dos operadores económicos”, apontou José Pedro de Morais Júnior.

Alguns empresários admitiram nas últimas semanas a possibilidade de pararem a produção devido à falta de matéria-prima, tendo em conta os atrasos nos pagamentos de faturas internacionais, dependentes da disponibilização de divisas.

Depois das restrições à injeção de divisas, devido à projeção inicial macroeconómica devido à quebra na cotação do barril de crude no mercado inicial, o governador diz que o BNA tem hoje “elementos para flexibilizar esta gestão”, passando pelo aumento de dois para três leilões semanais, para regularizar o fluxo de divisas à banca comercial.

“Com as medidas que vamos tomar, cremos que a situação se vai começar a resolver paulatinamente”, disse o governador.

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