Bancos tiveram acesso a quase 1.900 milhões de euros com compras de divisas aos clientes


Os bancos angolanos tiveram acesso a quase 1.900 milhões de euros em divisas só no mês de dezembro, cerca de um quarto das quais garantidas com compras aos clientes, um dos valores mais altos desde o início da crise.

De acordo com dados reunidos hoje pela Lusa a partir de relatórios do Banco Nacional de Angola (BNA), os bancos comerciais do país adquiriram junto do banco central, em dezembro, divisas no valor de 1.486 milhões de dólares (1.376 milhões de euros).

A este montante somam-se 486 milhões de dólares (450 milhões de euros) de compras diretamente aos clientes (essencialmente petrolíferas), o valor mais alto pelo menos de 2016 e que acompanha a tendência de valorização no segundo semestre do ano do preço do barril de crude, produto que representa mais de 90 por cento das exportações angolanas.

Em novembro, as compras de divisas aos clientes foram de 194 milhões de dólares (180 milhões de euros) e em outubro de 176 milhões de dólares (163 milhões de euros), segundo dados do BNA compiladas pela Lusa.

Só entre novembro e dezembro, na totalidade, os bancos angolanos viram as compras de divisas (entre clientes e BNA) aumentar em 49,31%.

Apesar da tendência de aumento de disponibilidades de divisas no final do ano – reforçada em já janeiro -, o BNA vendeu aos bancos comerciais angolanos uma média mensal de divisas de pouco mais de mil milhões de euros em 2016, o valor mais baixo dos últimos seis anos.

Durante todo o ano foram injetadas nos bancos comerciais, vendidas pelo banco central, divisas no valor superior a 9.262 milhões de euros, além de 730,1 milhões de dólares (686,4 milhões de euros).

Em média, os bancos receberam por mês cerca de 1.070 milhões de euros em divisas, valor influenciado sobretudo pelo segundo semestre de 2016, que concentrou dois terços de todas as vendas do banco central.

Trata-se de uma quebra de cerca de 22% face às divisas injetadas diretamente pelo BNA no ano de 2015 e 30% em relação a 2013, ano em que os bancos comerciais receberam o valor máximo de moeda estrangeira, equivalente a 1.500 milhões de euros todos os meses, além das compras que então eram feitas diretamente aos clientes, como as petrolíferas.

É preciso recuar ao ano de 2010 para encontrar um valor inferior de divisas vendidas pelo BNA aos bancos, que se cifrou então, em média, por mês, nos 967,7 milhões de dólares (909 milhões de euros).

A situação reflete o facto de bancos internacionais terem fechado o acesso das instituições angolanas a divisas em 2016, por falhas no cumprimento de regras de ‘compliance’, pelo que o BNA tornou-se no único fornecedor de moeda estrangeira e exclusivamente em euros.

Além disso, Angola enfrenta uma crise financeira e económica devido à forte quebra das receitas com a exportação de petróleo, face à redução da cotação internacional do barril de crude.

“O choque sistémico da queda do preço foi muito forte nas receitas públicas. Sublinhe-se que, só em 2015, a redução do preço do petróleo terá provocado uma quebra de quase seis mil milhões de dólares na receita fiscal”, reconheceu, a 17 de outubro último, no anual discurso sobre o estado da Nação, o Presidente da República.

“O executivo, para garantir os pressupostos básicos necessários ao desenvolvimento, teve de adotar uma política de estabilidade e regulação macroeconómica que lhe permitiu aprimorar a condução coordenada da política fiscal, monetária, cambial e de rendimento e preços, acentuando o papel da Programação Financeira”, disse ainda José Eduardo dos Santos.

A conjuntura nacional levou a uma forte quebra na entrada de divisas no país e a limitações no acesso a moeda estrangeira aos balcões dos bancos, dificultando as importações.

Lusa

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