Angolanas vivem drama estando aprisionadas na República da Guiné


Arminda Baldé, coordenadora da associação das Mulheres Angolanas na Guiné,  casada  com um guineense há 20 anos, e a viver em Conacri há 10, é uma das vozes activas que denunciam  Guineenses que trabalham em Angola, de manterem esposas Angolanas com quem são casados sob cárcere privado, maus tratos, entre outras práticas negativas naquele país. 

Imagem meramente ilustrativa

Apesar de não estar a passar pelo drama, Arminda  é uma porta-voz das demais que atravessam situações complicadas e que clamam por ajuda .

De acordo relatos da mesma, Marcelina Domingos vive em Conacri há mais de dez anos, com um guineense, que lhe prometeu uma vida de rainha. Ahmed Diallo, o guineense, é proprietário de uma cantina num dos bairros de Luanda, onde conheceu a jovem, conquistou a sua amizade, começou a namora-la e, não tardou, pediu-lhe em casamento. Após o nascimento do segundo filho, Diallo decidiu levar a mulher à Conacri.

Ao Jornal de Angola, a senhora disse ainda que por alegada  dificuldade para tratar o passaporte angolano, Diallo convenceu a mulher a viajar com um Salvo Conduto emitido pelo consulado guineense em Luanda.

Os primeiros dias foram uma verdadeira lua-de-mel. Não passaram muitas semanas para surgir o pesadelo,  a mulher começou a ser  tratada como um simples objecto de prazer e mera “máquina” reprodutora.

Marcelina vive num clima constante de medo, angústia e desilusão, é maltratada pelo marido e vê o mundo ruir sobre a cabeça. A vida que leva é igual à de muitas outras angolanas que casaram com guineenses ou nigerianos que praticam negócios em Angola.

Por sua vez, Williana Okoie vive na Nigéria há catorze anos, natural do Uíge e mãe de seis filhos, foi levada pelo esposo, Williana enfrenta um  pesadelo tão grande, que já  pensou em cometer suicídio. O marido vive em Angola a cuidar dos negócios, apesar da distância, sofre grande pressão psicológica de Okoie, o esposo, que a  obriga  a abandonar a casa por alegada prática de feitiçaria. O  marido diz que os  negócios em Angola já não correm tão bem como no passado e culpa a mulher.

Williana é vítima de espancamento, sempre que o marido se desloca à Nigéria. Dos seis filhos do casal, os três primeiros foram  recebidos pela família do marido, alegando que seriam enviados para uma outra região, com melhores escolas, para prosseguirem os estudos.

Verdade ou mentira, o certo é que estou há dois anos que não vejo os  meus filhos”, desabafou.

A esta situação junta-se o facto de Okoie não prestar assistência à mulher e aos três filhos que com ela vivem.

Sempre que ligo para ele, a resposta é disparate, algumas vezes, sou obrigada a utilizar um número estranho, porque o meu ele não atende”, esclarece.

Arminda Baldé encontrou a Williana na residência da embaixadora Maria Cuandina de Carvalho, em Conacri, numa tarde de convívio, que juntou mais de uma dezena de angolanas, a maioria vive o mesmo drama, mas poucas têm coragem de denunciar, com medo de represálias faz delas reféns, preferem viver em silêncio.

Uma delas aceitou falar para a imprensa, mas numa outra altura, num lugar discreto, sob anonimato, para despistar as companheiras,  para não ser denunciada ao marido.

O órgão aceitou a condição, mas esta veio a desmarcar o encontro mais tarde. “Elas vivem como prisioneiras”, disse Arminda Marta Baldé, em entrevista.

Mas a situação das angolanas casadas com guineenses e outros cidadãos da África do Oeste tem contornos mais graves. Arminda Marta Baldé reporta casos de filhos de pais guineenses e de  mães angolanas que vivem em localidades distantes de Conacri, que não frequentam a escola e se  expressam apenas em língua local.

“A maior parte dessas crianças, é usada em actividades agrícolas pelos pais ou familiares directos”, afirma.

Maria agradece o apoio da Embaixada  de Angola na solução dos problemas que muitas angolanas enfrentam. Aconselha as demais, que, em Angola vivem com guineenses, a não  viajarem com salvo-conduto para evitar constrangimentos.

 

Por: Eucadia Ferreira

 

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