“Alguns estudantes passam fome porque não sabem planificar”, diz Moisés Kafala


O director geral do Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo (INAGBE), Moisés Kafala falou pela primeira vez sobre o estado actual dos bolseiros angolanos que se encontram no exterior. Em entrevista a Angop o máximo dirigente daquele orgão afirmou que alguns dos seus estudantes, passam fome porque não sabem planificar, não usam correctamente o que recebem.

Moisés Kafala

Entre vários temas,  Moisés Kafala adiantou também que o INAGBE está focado em encontrar soluções para ultrapassar a actual dificuldade com acesso às divisas para os seus bolseiros no estrangeiro, pois, segundo o seu responsável, tem o valor, porém em kwanzas.

Em face disso, está a preparar alternativas, negociando com mais instituições bancárias para honrar o compromisso com os mais de cinco mil estudantes em diversos países. No entanto, o director Moisés Kafala alerta para uma melhor gestão financeiras dos estudantes e de um envolvimento maior dos encarregados de educação.

Angop – Qual é a actual situação das bolsas de estudo no país, tendo em conta o momento económico e financeiro que se vive?

Moisés Kafala Neto (MKN): Antes de mais devo dizer que temos dois tipos de bolsas de estudo: As Bolsas de Estudo Internas (BEI) e as Bolsas de Estudo Externas (BEE). As internas são aquelas cedidas aos cidadãos nacionais para estudar nas distintas universidades públicas e privadas que estão sedeadas no país. Quanto a estas, a questão dos pagamentos dos subsídios está a correr com alguma normalidade, pois não temos atrasos nos pagamentos, factor que facilitou a execução do processo de renovação, divulgação e recrutamento de novos bolseiros.

Temos alguns problemas com as bolsas externas, pois estão condicionadas ao pagamento dos subsídios, devido à carência de divisas no país. A crise económica e financeira mundial, infelizmente, também se regista em Angola, factor que se reflecte na transferência de divisas para o exterior do país. Temos o orçamento para as bolsas internas e externas, mas em kwanzas, faltando as divisas para podermos pagar os estudantes no exterior.

Angop – Onde é que se verifica mais dificuldade com os bolseiros?

MKN: A situação é geral, mas incide mais onde temos o maior número de bolseiros. Temos países onde só existem três a seis estudantes e a situação é melhor controlada. Mas em países como Cuba, onde existem 2.556, está mais complicada, ou mesmo a Rússia.

Angop – Que alternativas o INAGBE tem para fazer o pagamento atempado?

MKN: Face à situação actual, tem sido feito um esforço complementar para melhorar a gestão dos recursos alocados, consubstanciado na planificação atempada para que os processos sejam entregues às instituições bancárias, particularmente ao Banco de Poupança e Crédito (BPC), o banco que tem por missão fazer os pagamentos segundo as nossas orientações. Recorremos também ao Banco Nacional de Angola (BNA) e ao Ministério das Finanças para os devidos efeitos.

Tendo em conta que o BPC, que também compra as divisas no BNA, não atende só o INAGBE, trabalhamos também com o Ministério do Ensino Superior (MES), preparando as condições para trabalhar com o Banco Angolano de Investimento (BAI) e o Banco de Comércio e Indústria (BCI) a fim de conseguirmos um acesso mais facilitado a mais divisas e, desta forma, termos sempre em dia os subsídios de bolsas e as propinas. O MES está também engajado na articulação com o Ministério das Finanças e instâncias superiores, como é o caso do Gabinete do Vice-Presidente da República, para o efeito.

Angop – Há quanto tempo estão os bolseiros no exterior sem receber os subsídios?

MKN: Face à crise mundial, quase todos os estudantes angolanos têm os mesmos problemas. Mas é necessário realçar que alguns dos nossos estudantes passam por certas dificuldades porque não sabem planificar, não usam correctamente o que recebem. Não se compreende como é que um estudante de Cabo Verde que, por exemplo, recebe apenas 100 dólares norte-americanos consegue viver, mas o angolano que reside na Europa e recebe o equivalente a 500 dólares não consegue aguentar. Aí está a falta de planificação dos gastos.

Muitas vezes, os nossos estudantes não fazem as refeições nas cantinas das escolas, onde a alimentação é grátis. Por exemplo, em Cuba, nenhum estudante paga renda de casa. Só quem quiser viver isolado é que arrenda casa, fazendo gastos que depois podem ter peso significativo nas suas finanças.


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