Um fenômeno muito comum em Angola, a fuga à paternidade, quase sempre abordado como uma prática comum no género masculino porém pouco falado que também acontece no seio feminino. Em conversa com o AngoRussia, o terapeuta familiar Raúl Jorge esclareceu que mulheres também têm sido protagonistas da fuga à paternidade com uma frequência parecida aos dos homens, deixando suas responsabilidades à mãe ou à outro parente.
Infelizmente quando se fala da fuga à paternidade acaba-se por olhar apenas para o pai e isso é um erro, paternidade está exactamente ligada ao que chamamos de autoridade paternal no código da família, como um conjunto de direitos e deveres que devem ser exercidos pelos pais, o que significa que quando se fala da fuga não se reserva apenas ao pai, mas aos progenitores.
Em conversa com o AngoRussia, Raúl Jorge explicou a problemática por trás da má interpretação da fuga à paternidade “estamos perante a fuga à paternidade quando pai ou mãe se furta do cuidado do seu filho, do exercício dos seus deveres como a educação, sustento, obrigação de criar condições para que a criança cresça saudável, e tenha um futuro promissor socialmente útil”.
Quando o filho cresce com a avó ou outro parente sendo a mãe ou o pai vivo e com capacidade para o criá-lo, é considerado fuga à paternidade. Segundo o terapeuta familiar, esses eventos maioritariamente derivam de factores como a falta de preparação material dos progenitores, falta de responsabilidade, violência doméstica, desentendimento no relacionamento, desconhecimento da lei, pobreza e desemprego.
A criança que cresce distante dos progenitores, vivencia a carência afectiva difícil de ser preenchida, pode tornar-se desequilibrada, revoltada, rebelde, sem grandes ambições na vida, cresce mutilada, essa ausência pode levá-la ao suicídio.
“Ninguem é pai e mãe ao mesmo tempo. Por mais que se supram as necessidades financeiras e afectivas, o papel da mãe ou do pai nunca é substituída pelo outro no ponto de vista do desenvolvimento psicológico e cognitivo. Nenhuma figura é capaz de anular a imagem do outro”, esclareceu o terapeuta.
Segundo Raúl Jorge, a educação para a paternidade, responsabilização legal com penas mais severas, suporte familiar e da comunidade, fortalecimento de políticas melhor divulgadas, políticas de adoção mais simples com informações atractivas e menos burocráticas, são alguns dos factores de redução do impacto da fuga à paternidade.