O futuro é uma construção onírica que se vive irremediavelmente no presente. Com esta concepção do tempo, o jovem fotógrafo Magno Daniel vai apresentar na exposição “For a New Tomorrow” uma série fotográfica sem outra pretensão senão a de vincar os pés na terra e afirmar: “existo, estou aqui”.
O trabalho estará em exibição até 23 de Dezembro na galeria Jahmek Contemporary Art, Hotel Globo, numa iniciativa patrocinada pela Tigra.
Esta percepção do tempo permeia as seis fotografias que Magno Daniel leva à exposição colectiva no Hotel Globo, ao lado dos jovens artistas Irene A’Mosi, Resem Verkron, Hélder Garcia e Lilianne Kiame.
“A minha obra capta momentos específicos da cidade, das pessoas, ou instantes, simplesmente, que podem retratar tudo ou nada, dependendo da percepção de quem os vê”, indica o jovem talentoso.
Todas as fotografias estão a preto e branco, a opção estética que mais utiliza quando trabalha em projectos pessoais, e que se enquadra nesta reflexão sobre “o novo amanhã” que a exposição propõe.
“Quando falamos no futuro, sempre imaginamos algo muito brilhante, mas esse futuro pode significar outra coisa, pode ser um regresso, uns passos atrás”, sublinhou.
As possibilidades de significação das suas fotografias “estão todas em aberto”, repete uma e outra vez. “Muitos artistas têm uma intenção declarada em provocar algo nas pessoas, mas nesta obra em específico não quero ter um papel activo como intermediário entre um possível significado, que não existe como tal, e a interpretação de quem vê estas fotografias”. “É a apropriação da arte por parte de quem a vê e sente, o que realmente dá vida aos nossos trabalhos, elimitar essa possibilidade retirar-lhe-ia o brilho”.
Um futuro de detalhes
Esta postura terra-a-terra que Magno Daniel assume em “For a New Tomorrow” é fruto de algo que considera essencial e único neste projecto da Jahmek Contemporary Art e da Tigra:
“Liberdade!. Desde o primeiro momento, deram-nos absoluta autonomia, deixaram-nos ser quem somos e isso é inestimável, porque quando a tua obra está presa a uma intenção, muitas vezes acaba por se perder no processo”, frisou.
Para o jovem, “num contexto como o de Angola, onde és induzido a politizar cada elemento da tua vida”, estes espaços sem amarras “são fundamentais”. “Até numa fila de pão, quando te dás conta, alguém manda uma dica, o outro responde, e no final acabamos todos a falar de política”, ironiza.
Na busca destas “pequenas coisas”, Magno Daniel, que estudou nos Estados Unidos entre 2014 e 2018, viajou um ano por África, onde fotografou “de forma livre”. Passou por Moçambique, Senegal, Namíbia, Zâmbia e África do Sul.
No ano passado, também participou numa residência para fotógrafos em Cabo Verde.
“Foi fantástico. O mundo preocupa-se em definir o que serve para nós, africanos. E estas experiências pelo continente permitiram-me criar espaços de diálogo com fotógrafos com realidades iguais às minhas, vivências similares em espaços idênticos”, destacou.
Este espírito do colectivo, sentiu-o novamente em Luanda, na iniciativa da Jahmek Contemporary Art e da Tigra.
“Cada um dos cinco jovens chegou aqui tal qual como é.Interagimos, partilhámos visões e atrevemo-nos, como artistas angolanos, a ser somente arte, mostrando o que vemos e sentimos, assumindo também o que nos dá medo e aterroriza. De peito aberto, expomo-nos, e num país como o nosso, esta sim, é uma postura de futuro”, concluiu.