Ao longo do dia, os organismos da grande maioria dos seres vivos da Terra apresentam oscilações em sua atividade como resposta a um “relógio” biológico interno. Conhecido como ciclo circadiano, ele permite que suas fisiologias se adaptem às transições entre dias e noites, regulando processos que nos seres humanos incluem o sono, a atividade locomotora, a pressão sanguínea, a temperatura corporal e a produção de hormônios, entre outros. Mas os diferentes órgãos e tecidos de nossos corpos não batem em uníssono com o tique-taque desse relógio.
Dependendo de como atuam ou onde são metabolizados os remédios, existem horas ideais para sua administração. É a chamada cronoterapia, uma nascente abordagem da medicina que busca sincronizar a ação de medicamentos aos ritmos do corpo a fim de aumentar sua eficácia e melhorar seus resultados, ao mesmo tempo em que reduz as doses e os riscos de interações entre drogas. Essa estratégia acaba de ganhar um importante reforço com a publicação do primeiro e mais completo atlas das oscilações de atividade corporal — em camundongos, mas potencialmente replicáveis em nós.
PESQUISA FOI UM ESFORÇO DE CINCO ANOS
Fruto de um esforço de cinco anos de pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, o estudo publicado na edição desta semana do periódico científico americano “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS) não só identificou quais genes desses animais têm sua atividade influenciada pelo ciclo circadiano como determinou as partes do corpo e os horários em que eles ficam mais ou menos ativos. A fim de efetivamente medir a potencial aplicação em humanos, os cientistas relacionaram os dados com a atuação dos cem remédios mais vendidos no mercado dos Estados Unidos e os 250 listados como essenciais pela Organização Mundial de Saúde (OMS), demonstrando quais poderiam se beneficiar com a abordagem da cronoterapia.
Segundo os pesquisadores, nada menos que 56 dos cem remédios mais vendidos nos Estados Unidos — e 119 dos 250 considerados essenciais pela OMS — agem sobre produtos ou processos regulados por esses chamados “genes rítmicos”. Além disso, 23 dos 56 medicamentos no topo da lista do ranking americano que têm seus alvos controlados por esses genes têm meia-vida inferior a seis horas, isto é, mantêm níveis terapêuticos de concentração no sangue abaixo desse intervalo de tema, o que os torna mais sujeitos às variações da atividade deles sob influência do relógio biológico.