Após trabalhar com galinhas, Binelde Hyrcan ‘faz’ arte ao ensinar macaco a nadar


Binelde Hyrcan é um jovem artista angolano que trabalha em várias disciplinas de arte, pintura, escultura, design, cinema, performance e instalação, e que de uma forma irreverente usa seus dotes  no mundo artístico para passar mensagens importantes sobre o ego e a vaidade humana. O mesmo, contou em entrevista exclusiva qual é o balanço que faz de quase uma década de carreira, quais são os seus projectos para o ano em curso, bem como a forma como algumas pessoas encaravam sua maneira de manifestar arte.

Formado em Belas Artes, Binelde começou por dizer que explora várias áreas da arte porque é alguém que se aborrece com facilidade e que inspirado pela sua mãe sentiu que por via de várias vertentes da arte poderia passar várias mensagens de extrema reflexão e importância para os angolanos e não só. “Aborreço-me com muita facilidade, então não me vejo a fazer só pintura por muito tempo, tento focar-me também em outras áreas que de certa forma também domino, gosto muito de fazer vídeos pois há trabalhos de pintura que exigem filmagens e as mesmas acabam por se tornar em instalação, e faço deste modo dois trabalhos de uma só vez. A área da pintura relaxa-me mais, deixa-me tranquilo, transmite-me uma paz diferente das outras áreas que exigem um bocado mais de preocupação com o ambiente e os aspectos técnicos”.

No que toca a reacção inicial das pessoas em relação a algumas das suas obras, o artista disse que já foi encarado como maluco, já foi associado a uma identidade política, mas que actualmente em função da divulgação e expansão do seu trabalho as pessoas já vêem com bons olhos e já o reconhecem.

“Uma vez elaborei uma performance, ao ficar nove horas sentado debaixo de uma árvore a servir de depósito de fezes de pássaro. No princípio as pessoas não encaravam com bons olhos, mas noto que agora já conseguem perceber o real objectivo das obras e respeitam mais o meu trabalho, porque notam resultados e perceberam que não é só mais uma pancada ou maluquice minha. Eu trabalho muito sobre o ego e a vaidade humana e, o contexto actual da África e do nosso espaço é completamente diferente e nós temos que ter muita atenção ao que fazemos e acho que o meu trabalho serve também para antecipar, alertar e preparar as pessoas para certas coisas que podem acontecer. O meu trabalho está cada vez mais internacionalizado, tanto que neste momento tenho uma exposição na Chyna, em Shangai, estive na Alemanha há duas semanas e vou estar em Londres daqui à alguns dias”, ressalvou.

O artista que inspira-se nas pessoas e em suas vivências, revelou-se muito humilde ao falar do seu brilhante trajecto e destes nove anos de um trabalho que é cada vez mais reconhecido não só a nível nacional, como também internacional. “Apesar de ver o meu trabalho a ser muito reconhecido mundialmente, e de ter exposições todos os meses em vários cantos do mundo não sei o que é sucesso, prefiro dizer que as coisas estão a correr bem e que Angola está a mudar pois muitas coisas estão a ser bem feitas, até porque do mesmo modo que precisamos do petróleo também precisamos da cultura e de educação.

Tendo já trabalho com galinhas, um dos seus projectos em carteira para o ano corrente é praticar a arte a trabalhar com um macaco bonobo, a quem pretende ensinar a nadar.

“Estive a trabalhar no Congo , com um macaco um bonobo, estou a ensinar-lhe a mergulhar, depois de trabalhar com as galinhas, estou a trabalhar com o Jorge, mas como a situação política no Congo hoje não é muito estável então preferi dar um tempo até que as coisas melhorem, mas este é um dos meus projectos para 2018. Quando comecei a trabalhar com as galinhas as pessoas conotavam-me como alguém directamente ligado a um partido político, e eu explicava que a galinha era um símbolo francês que representa poder e como eu trabalho muito com coisas que têm a ver com a vaidade humana e o ego então usei-as para explicar isso, as pessoas achavam cómica a exposição das galinhas quando na verdade as mesmas retratavam uma tragédia”.


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