Angola é Leão de Ouro


Fotografia © Reuters
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Para a ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, que chefia a delegação angolana presente na 55ª edição da Exposição Internacional de Arte de Veneza, esta distinção “é um incentivo para a arte contemporânea angolana”.

O prémio foi anunciado pelo presidente do comité da Bienal de Arte de Veneza, Paolo Baratta. O júri internacional que decidiu a atribuição dos prémios é presidido pela britânica Jessica Morgan, curadora da Tate Gallery de Londres, e ainda pelos curadores Sofía Hernández Chong Cuy (México), Francesco Manacorda (Itália), Bisi Silva (Nigéria) e Ali Subotnick (Estados Unidos).

A curadora do Pavilhão de Angola na Bienal de Arte de Veneza 2013, Paula Nascimento, não conseguiu conter a sua surpresa com a atribuição do Leão de Ouro para a melhor representação nacional. Em declarações à agência Lusa, no final da cerimónia de anúncio do palmarés, Paula Nascimento, curadora do “Luanda, Cidade Enciclopédica”, em conjunto com Stefano Pansera, criado com base num trabalho fotográfico de Edson Chagas, disse que, apesar da surpresa, o projecto “mereceu ganhar”.

“Foi completamente inesperado. Eu fiz no ano passado a primeira participação nacional de Angola na Bienal de Arquitetura de Veneza com um projecto que também foi muito bem recebido, mas isto vai além de qualquer expectativa. Não estávamos à espera”, assegurou.

O júri desta edição do certame dedicado à arte contemporânea justificou a escolha do Pavilhão de Angola “pela forma como os curadores e o artista refletiram juntos sobre a impossibilidade de reconciliação e complexidade do espaço”.

Paula Nascimento referiu que o galardão – o mais importante da Bienal de Arte de Veneza – “é o culminar de três anos de colaboração e de trabalho” de equipa. “Merecemos”, afirmou a curadora, para acrescentar que se tratou de “um casamento perfeito”.

Também em declarações à Lusa no final da cerimónia, na zona dos Giardini, o artista angolano Edson Chagas referiu que a escolha do júri “foi uma bela surpresa” e agradeceu o apoio do Ministério da Cultura de Angola e dos curadores do projecto. “Participar já foi uma grande honra. Receber este prémio é fantástico”, disse o artista. O projecto reúne 23 fotografias captadas pelo artista.

Também o secretário de Estado da Cultura português, Jorge Barreto Xavier, afirmou, em Veneza, que a atribuição do Leão de Ouro ao Pavilhão de Angola “representa um reconhecimento extraordinário” para a arte contemporânea angolana.

Em declarações à Lusa, no final da cerimónia de anúncio do palmarés da Bienal de Veneza 2013, Jorge Barreto Xavier disse estar “muito feliz” com a escolha do júri internacional. Além do pavilhão angolano, o comité da Bienal de Arte de Veneza distinguiu o britânico Tino Sehgal, como melhor artista da Bienal, e com o Leão de Prata a revelação francesa Camile Henrot.

Angola está presente com um pavilhão onde estão a decorrer duas exposições: a mostra fotográfica “Luanda Enciclopédica” e outra de pintura e escultura, denominada “Angola em Movimento”, que reúne artistas de diferentes gerações, cujas obras foram seleccionadas a partir da Colecção Ensa-Arte.

Entre os artistas convidados para expor, nesta primeira participação de Angola na Bienal de Veneza, destacam-se nomes como Francisco Van-Dúnem “Van”, António Ole, Fineza Teta, Marco Kabenda (pintores), António Vemba, Mayembe, António Toko, Kiana (escultores) e o fotógrafo Edson Chagas.
Os prémios atribuídos em cada edição são os dois Leões de Ouro, para a melhor participação nacional e ao melhor artista da Mostra Internacional, e o Leão de Prata para um jovem artista emergente na mesma exposição.

Encontros e visitas

A ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, manteve na sexta-feira um encontro de trabalho com o director-geral da Bienal de Veneza, Paolo Baratta, com quem abordou, entre outros assuntos, a participação angolana na actividade.

Numa conversa de cerca de meia hora, à qual também esteve presente o embaixador de Angola em Itália, Florêncio de Almeida, a ministra e Paolo Baratta falaram também sobre uma possível cooperação e da importância da participação de Angola na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2014.

Paolo Baratta afirmou a sua satisfação pela presença africana, a qual considerou uma excelente oportunidade para que o mundo possa ver, de perto, o trabalho dos criadores africanos. “É um diálogo importante, porque serve para que todos possam tomar conhecimento e contacto directo com a realidade cultural africana, e neste particular a angolana”, reforçou.

Por sua vez, Rosa Cruz e Silva adiantou que a presença de Angola serve para que os artistas angolanos possam manter contacto directo com os de outras nacionalidades, tendo em conta o desenvolvimento das artes angolanas. “É também uma forma de manter um diálogo e uma troca de ideias, razão pela qual Angola está sempre aberta a participar nestas actividades internacionais”, disse.

Membros da delegação angolana participantes na Bienal de Veneza (Itália), chefiada pela ministra da Cultura, realizaram na sexta-feira visitas aos locais históricos da cidade. A jornada começou na sede da Fundação Cini, na Ilha de São Jorge, onde passaram por vários compartimentos e receberam explicações dos responsáveis da instituição. No final da tarde, a ministra e os membros da delegação percorreram as diversas salas de exposição da Bienal de Veneza, entre as quais a do Vaticano, onde mantiveram contacto com o cardeal Francesco Moraglia.

O pavilhão

Angola tem, pela primeira vez, um pavilhão próprio, instalado no Palácio Cini, em Veneza, inaugurado na quinta-feira, com uma cerimónia presidida pela titular da pasta da Cultura e assistida pelo embaixador angolano em Itália, Florêncio de Almeida, e pelo ministro da Cultura de Itália, Massino Bray.

A cerimónia, que contou também com a presença de diversas individualidades estrangeiras e membros da comunidade angolana, portuguesa e brasileira, residentes em Itália, teve a animação do grupo Lambada do Kinaxixi, que brindou a assistência, durante 20 minutos de actuação, com alguns dos seus números de rebita.
Ao falar à margem da inauguração do espaço, a ministra disse tratar-se de um local que serve para o mundo ver de perto as criações artísticas nacionais. O pavilhão, realçou, é a prova da aposta do Executivo na cultura e na afirmação e divulgação dos criadores e dos bens artísticos nacionais.

O pavilhão de Angola vai acolher, até ao dia 24 de Novembro, data de encerramento da Bienal de Veneza, diversas actividades culturais, com destaque para as exposições de artes plásticas. O Palácio Cini é um edifício histórico que esteve encerrado durante 20 anos e que acolhe uma vasta colecção de pintura do Renascimento, objetos de arte sacra e mobiliário antigo pertencente à Fundação Cini.

Os convidados

Mais de 70 países participam, desde sexta-feira, na 55ª edição da Bienal de Veneza. Entre os falantes da língua portuguesa, o destaque vai para as presenças de Angola, Portugal e Brasil, que levaram obras que retratam a cultura dos seus povos.

A Bienal de Veneza (em italiano: Biennale di Venezia) é uma exposição internacional de arte realizada bianualmente desde 1895. Com obras de 150 artistas, inclui ainda uma programação paralela de dezenas de debates e eventos culturais.

A iniciativa para criar a Bienal partiu de um grupo de intelectuais venezianos liderados pelo presidente da Câmara de Veneza na altura, Riccardo Selvatico. O carácter internacional da Bienal teve início nas primeiras décadas do século XX, mais concretamente em 1907, quando vários países começaram a instalar pavilhões nacionais na exposição.

Depois da I Guerra Mundial, a Bienal mostrou um interesse cada vez maior pelas inovações da arte moderna. Entre as duas grandes guerras, vários artistas modernos tiveram os seus trabalhos ali expostos. Depois de uma pausa de seis anos, durante a II Guerra Mundial, a Bienal regressou em 1948 com a atenção voltada para os movimentos “avant-garde” europeus e, posteriormente, para os de arte contemporânea internacionais.

Por: Jornal de Angola


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