Talento de angolano Toty Sa’Med em destaque na BBC News


O jovem talento angolano Toty Sa’Med, que recentemente venceu à categoria “Afro Jaz do Ano” no ‘Top Rádio Luanda 2017’ é destaque na emissora pública de rádio e televisão do Reino Unido “BBC News”. Durante a entrevista, Toty revela como surgiu a sua paixão pela língua nacional Kimbundu e quando decidiu escrever as músicas na mesma língua. 

Apesar de falar apenas algumas palavras em Kimbundu, Toty Sa’Med insiste em escrever suas músicas na referida língua, devido a paixão que ganhou enquanto apreciava sua falecida avó a falar Kimbundu, bem como ao apreciar outros falantes desta língua, segundo justificou o mesmo.

“Minha bisavó foi a última pessoa que conheci pessoalmente, quem falou apenas Kimbundu. Ela morreu há 15 anos. É uma língua local em Angola, falada na área que rodeia a capital Luanda. Foi aí que nasci e criei, mas, mesmo assim, só posso falar algumas palavras. Eu ouço os vendedores de rua em Luanda a falar Kimbundu entre si. Eles vêm do campo e estão muito conectados à sua cultura. Então, quando compro algo com um vendedor de rua, às vezes eu os cumprimento em Kimbundu. Quase todos podem pelo menos dizer olá. Até saúdo alguns dos meus amigos em Kimbundu. Mas quando quero comprar algo, eu tenho que mudar para o português porque não sei dizer muito mais em Kimbundu. O vendedor responde em português porque quase todos os que falam Kimbundu sabem falar português também. Não conheço ninguém que fala apenas Kimbundu. Ainda ouvimos a língua todos os dias porque misturamos algumas das palavras em nosso português. Amigo, por exemplo, é Kamba. Mas não sabemos como construir sentenças porque não tivemos a chance de aprender correctamente”, explicou o cantor a BBC News.

O cantor revelou também que quando era mais novo não tinha muito interesse em Kimbunbu, pois, na época pensava que a mesma, era linguagem para os selvagens. Toty Sa’Med ainda assemelhou o actual valor da língua Kimbundu com a história da colonização nacional, dando ênfase à influência que a mesma causou na vida do povo angolano e não só.

No final, o artista confessou ainda que apreciar seus colegas africanos a valorizarem mais à cultura dos seus respectivos países, o fez crescer musicalmente e seguir o mesmo rumo.

“Quando eu era adolescente, meu director decidiu colocar Kimbundu em nosso horário na escola. Isso era incomum – não estava no currículo em Luanda, mas fui a uma escola particular. Com 13 anos de idade, não percebi que era importante – era a lição que costumávamos conversar e perturbar. Eu tinha alguns preconceitos sobre o Kimbundu. Nos ensinamos pela sociedade que a linguagem não era bonita ou civilizada. Nós o descartamos porque pensamos que era uma linguagem para os selvagens. Quando os portugueses colonizaram Angola, tentaram diminuir o valor de Kimbundu e outras línguas locais. Suprimir a cultura tornou mais fácil colonizar-nos. Eles tiraram nossos nomes locais e agora quase todos em Angola têm sobre-nomes portugueses. Isso nos causou como adolescentes, todas aquelas gerações mais tarde, para desprezar o idioma e achar embaraçoso falar em Kimbundu. Então as coisas mudaram para mim. Comecei a viajar ao redor do mundo para realizar. Quando vi outros artistas africanos de sucesso, comecei a valorizar minha cultura mais. Eu percebi que eu tenho todas essas influências estrangeiras, mas não trago nada de novo para a cena. Eu jogava como outras pessoas e cantei como outras pessoas. Comecei a ganhar consciência sobre minha própria cultura e comecei a valoriza-la. Decidi que era hora de usar minha arte para influenciar as pessoas da minha geração e incentivá-las a aprender nossos idiomas. Cobri uma música de um cantor chamado Artur Nunes da década de 1970, que ouvimos tocar no rádio quando estávamos crescendo. Eu já conhecia todas as palavras, mas não sabia o que eles queriam dizer”, contou Toty Sa’Med em entrevista ao canal BBC News.

Acompanhe a entrevista na íntegra:


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