Após o actor e apresentador angolano, Borges Macula, declarar que a única solução para o cinema angolano está em fazer e não gritar para quem de direito, Sílvio Nascimento rebateu a declaração do colega, defendendo que a sétima arte é parte estratégica de um Estado e que sem políticas de apoio e financiamento, os artistas serão ciclicamente sofredores geracionais.
Considerado como um dos actores angolanos que luta em prol do desenvolvimento e divulgação da sétima arte em Angola, e pela valorização dos actores da nova geração, Sílvio descordou de Borges e sustentou que deixar o cinema somente na mão de quem o faz, é desassociar-se do Estado, uma vez que o mesmo é a manifestação sociocultural capaz de posicionar a identidade do povo.
“O cinema é parte estratégica de um Estado, é uma manifestação sociocultural capaz de posicionar a identidade de um povo, deixa-lo única e exclusivamente na mão de quem faz (artistas), é desassociar-nos do Estado, isso não é possível tanto que há anos todos sofrem por isso, os que fazem (nós) e os ‘quem de direito’ que nada fazem e muito olham a nossa luta (o Estado)”, rebateu.
O artista destacou “Podemos lutar uns e outros poucos, aqueles que ainda resistem, mas sem políticas de apoio e de financiamento à produção, exploração, divulgação e distribuição do cinema angolano seremos ciclicamente sofredores geracionais do todo sempre de fazedores do cinema, os que andam e param, onde muitos recuam e não avançam, os que muito fazem, mas sem avanços plausíveis”.
Sílvio Nascimento sublinhou ainda a necessidade dos fazedores estarem alinhados, pois, já há algum tempo que a classe está abandonada a sua própria sorte, e colocar de parte quem de direito é um plano que pode matar a criatividade com tempo.
“O cinema angolano não pode continuar abandonado à sua sorte, não pode ser regulado à margem do Estado, nós não podemos fazer, fazer, fazer e fazer sem estarmos alinhados. Isso é um assistido suicídio cultural. Borges Macula, mas nós até hoje estamos aqui porque continuamos a fazer, sozinhos, abandonados a nossa sorte, à Deus-dará, ao leu, só nós e as nossas fé(zes) e tal resiliência que nascemos com (el), mas pôr de parte quem deve e muito fazer é parte de um plano estratégico definido para te cansar e matar a criatividade com o tempo”, disse.
Na ocasião, o artista questionou ao colega “há quantos anos fazes arte? Quantos anos fizeram os nossos antecessores? Quantos morreram na luta? Quantos mais terão de morrer nisso sem ver a luz? É por falta de luta da nossa parte? Não, não é, resiliência nunca nos faltou, então não é isso, temos de exigir sim, os nossos direitos, temos de lutar juntos contra quem e o que nos impede de crescer, fazer fazer, fazer e fazer sem caminho vai levar-nos a um buraco viciante sem resultados.