Depois de assistir o documentário “African Queens”, na Netflix, que conta sobre o legado de Nzinga Mbandi, o escritor angolano e actual Coordenador de Marketing da TV Zimbo, Lady Mukeba, mostrou-se indignado pelo facto de uma história nacional ser contada por outros e alerta os angolanos a resgatarem os seus valores culturais.
Em conversa com o AngoRussia, Lady Mukeba também conhecido como “O velho Kipacaça”, contou que chegou a arrepiar-se com o conteúdo mostrado ao longo do documentário, mas que deste modo, dois polos se assomaram sobre a sua mente, o da gratidão e o da tristeza.
“O polo da tristeza não está associado ao documentário, mas àquilo que é a minha análise transversal ao legado deixado por Nzinga, a nossa saudosa rainha. Perguntei-me, por exemplo, até quando as nossas histórias serão contadas por outras pessoas (não entendam isso como um ataque a quem produziu/escreveu), entendam que incomodou-me ter visto a senhora Rosa Cruz e Silva apenas três vezes ao longo do documentário e falando em menos de 2 minutos. É como se o que ela tinha para falar não fosse relevante”, começou por dizer.
Lady reforça ainda que a sua tristeza passa ainda por um outro ponto que tem mostrado nos seus livros e que o documentário mostrou de forma muito clara, sobre o cristianismo que contribuiu de forma agressiva para que os angolanos ou os africanos perdessem a sua identidade, cultura.
“Quando é que Angola vai se preocupar em resgatar a sua história e valorizá-la? Talvez já não esteja vivo para ver isso. A minha tristeza passa ainda por um outro ponto que tenho mostrado nos meus livros e que o documentário mostrou de forma muito clara: O cristianismo contribuiu de forma agressiva para que os angolanos (africanos) perdessem a sua cultura. A Nzinga foi forçada a aceitar um Deus que não lhe deu opções, teria de escravizar o seu próprio povo se quisesse ‘paz’ e a irmã livre. Teria de negar os seus ancestrais. Infelizmente isso acontece até hoje. Povo angolano, com principal realce ao Ministério da Cultura, percebam que há aqui um legado que está a ser ignorado. A Rainha Nzinga não fez o que fez em vão. Foi para proteger o seu próprio povo, sua cultura e principalmente as suas crenças. Mas, infelizmente, estando sozinha, não foi possível. ‘Ninguém está imune à morte… porque nem sempre estarei aqui. Quando eu partir, lembre-se de tudo o que nos trouxe até aqui. Lute para proteger isso”. Trecho tirado do documentado numa das falas de Nzinga”, disse.
Ainda na sua linha de pensamento, Lady Mukeba ressaltou a felicidade e gratidão por poder viver a imersão dos seus ancestrais ao logo do documentário, e aproveitou para parabenizar toda a equipa envolvida e em especial a actriz e apresentadora Jada Smith.
“A gratidão passa pelo árduo trabalho que foi produzir esse documentário. Percebe-se de primeira que não foi fácil. Há muita qualidade em todos os aspectos. Pude viver uma imersão quanto aos meus ancestrais. E aproveito dar os parabéns a todos os envolvidos na produção desse documentário. Obrigado Jada Smith, pelo magnífico trabalho. Mais vale um documentário que nada”.
Já ao finalizar, o autor do livro “Velho Kipacaça”, lamentou o facto dos angolanos se esquecerem de tudo que a Rainha Nzinga já fez e trouxe até os dias de hoje, e ninguém lutar para resguardar o seu legado.
“Fica a dica de que, se nós não nos levantarmos para contar a nossa própria história, outras pessoas terão automaticamente a abertura para escreverem sobre nós, conforme acharem conveniente para o seu enredo, e desse modo, surgirão muitas inconsistências na veracidade de um determinado legado. A esta altura, estou perdido na percepção se Nzinga foi vilã, como muito pregam, ou foi vítima de uma intervenção divina que percebeu que os angolanos precisavam de serem escravizados e mudarem de hábitos”, finalizou.
“Africans Queens” vem através da produtora executiva Jada Pinkett Smith e do serviço global de streaming, enquanto trazem vida às muitas potências femininas que moldaram a África pós-colonial.
A rainha Nzinga de Ndongo e Matamba ganhou destaque durante o século XVII, quando governou Angola e lutou contra os colonos portugueses. Alguma confusão circula em torno da grafia correcta do nome da falecida rainha, já que diferentes historiadores se referem a ela como Njinga, seu nome nativo era Ngola Njinga, ou seu nome cristão, Ana de Sousa.
O programa é escrito pelo contador de histórias nascido no Quênia Peres Owino e pela diplomata britânica NneNne Iwuji e vem do Smith’s Westbrook Studios e do estúdio de cinema independente Nutopia.
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