Dólar volta a subir e já custa 610 kwanzas nas ruas de Luanda


O preço de um dólar norte-americano nas ruas de Luanda subiu sete por cento na última semana, para 610 kwanzas, após quase um mês inalterado, mantendo-se três vezes e meio acima da taxa oficial de câmbio.

dolar e euro

Os preços foram confirmados hoje numa ronda da agência Lusa pelas ruas da capital angolana onde é feito este tipo de negócio, uma prática ilegal, mas a única alternativa face à falta de divisas nos bancos, e contrastam com os 570 kwanzas por cada dólar cobrados há uma semana.

Os receios por parte de quem negoceia, tendo em conta as detenções conhecidas em junho, são praticamente inexistentes, mas quem vende não consegue explicar como forma o preço, que agora volta a aproximar-se de máximos históricos.

“Os dólares começam a aparecer e como havia muita procura da semana anterior os preços sobem”, conta uma destas ‘kinguilas’ de Luanda, como são conhecidas as mulheres que se dedicam a este negócio.

Na habitual ronda feita pela Lusa foi possível encontrar quem vendesse a nota de dólar, no bairro do São Paulo, a 610 kwanzas, preço semelhante ao praticado pelas ‘kinguilas’ do bairro dos Mártires de Kifangondo ou na zona da Mutamba, próximo da sede do Ministério das Finanças.

Já no bairro do Prenda, igualmente no centro de Luanda, era hoje possível encontrar quem vendesse o dólar a 600 kwanzas.

Ainda assim, são preços especulativos de quem vende, que, em muitos casos, como trabalhadores expatriados, é a única forma de ter acesso a divisas no atual contexto de crise económica, financeira e cambial, decorrente da quebra nas receitas petrolíferas.

Só desde setembro de 2014, a moeda nacional angolana desvalorizou-se em mais de 40%, face ao dólar norte-americano, para 166 kwanzas para um dólar, à taxa oficial, muito longe dos valores do mercado paralelo.

O Banco Nacional de Angola (BNA) recomendou em maio um “maior controlo e responsabilização dos agentes promotores do mercado informal de moeda estrangeira” por parte da polícia.

Segundo informação de 11 de julho do Ministério das Finanças, as reservas internacionais angolanas – moeda estrangeira que permite nomeadamente a aquisição ao exterior de matéria-prima para as indústrias e produtos alimentares – caíram cerca de seis mil milhões de euros desde 2014, desceram em junho para 24 mil milhões de dólares.

Ainda assim, segundo o Governo angolano, suficiente para cobrir oito meses das atuas necessidades de importação do país.

A preocupação com as consequências da situação cambial atual foi enfatizada a 14 de junho por Ricardo Velloso, chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) que esteve em Luanda para negociações de um programa de assistência solicitada pelo Governo e entretanto abandonado por Angola.

“Não olhamos a taxa de câmbio no mercado paralelo como uma indicação do que deve ser a taxa de câmbio oficial, ainda há muita especulação e pressão pontual nesse mercado, que é muito limitado. Mas há espaço, do ponto de vista da taxa oficial, para mais ação por parte do BNA, para diminuir a pressão que existe”, apontou o economista brasileiro.

Admitiu igualmente que as “restrições administrativas existentes para aceder a divisas à taxa oficial”, tendo em conta que os bancos não disponibilizam e os leilões do BNA são reduzidos face à procura, “constituem um constrangimento à atividade e diversificação económicas” e “precisarão de ser levantadas gradualmente”.

“A nossa recomendação também é que o BNA use um pouco mais das suas reservas internacionais para diminuir a pressão que existe a curto prazo”, disse.

Lusa


Gostou? Partilhe com os teus amigos!