A compra de viagens aéreas para Luanda com início fora de Angola, em moeda nacional, o kwanza, deixou de ser possível a partir de ontem “14 de Março”, com a suspensão dessas vendas por parte da companhia de bandeira angolana TAAG.
A informação foi confirmada para imprensa pela transportadora área estatal de Angola, que segue os passos de todas as restantes companhias internacionais que operam a rota de Luanda, incluindo a portuguesa TAP, que há vários meses deixaram de aceitar kwanzas na compra de passagens para viagens que não se iniciem na capital angolana, face à dificuldade em repatriar divisas.
Carlos Vicente, porta-voz da TAAG explicou que em causa estão as despesas operacionais, como combustível, que a companhia tem de pagar no exterior, em divisas, cujo acesso em Angola é neste momento limitado, devido à crise financeira, económica e cambial que afeta o país.
“Com as despesas operacionais que a companhia tem, com esta escassez de divisas, atrapalha um pouco a operacionalidade da companhia, daí que se tomou esta medida. A partir de hoje, todas as viagens iniciadas fora devem ser pagas em moedas locais, ou em euros ou em dólares”, apontou.
Além disso, o porta-voz da companhia sublinhou que nos últimos meses estava a aumentar a compra em Angola, em kwanzas, de viagens com início fora do país e destino Luanda.
Este cenário acompanha, por exemplo, a situação de acumulação de moeda nacional por parte de muitos expatriados, que também não conseguem transferir divisas para os seus países de origem.
Angola vive desde o final de 2014 uma profunda crise decorrente da quebra da cotação de petróleo no mercado internacional e milhares de expatriados deixaram o país nos últimos meses.
A companhia portuguesa TAP aplicou a mesma medida em janeiro de 2015, alegando a crise no acesso a divisas que já então se fazia sentir.
A espanhola Ibéria deixou de voar para Luanda no final de maio e a moçambicana LAM desde o início de julho.
Só a TAP, segundo o relatório e contas da Parpública tinha depósitos em Angola no montante de 27,7 milhões de euros, no final de 2015, que estava com dificuldade de repatriar.
Foi noticiado a 03 de junho que Angola é o quinto país do mundo com mais fundos retidos às companhias aéreas, que não paga há sete meses, acumulando dividendos de 237 milhões de dólares (213 milhões de euros) que as transportadoras não conseguem repatriar.
Os dados constam de um comunicado da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) que coloca Angola numa lista de países liderada pela Venezuela, com 3.180 milhões de dólares (16 meses sem transferir dividendos), seguida da Nigéria (591 milhões de dólares, sete meses), Sudão (360 milhões de dólares, quatro meses) e Egito (291 milhões de dólares, quatro meses).
No mesmo comunicado, a IATA, que representa 264 companhias aéreas e 83% do tráfego global, afirma que pediu aos governos “que respeitem os acordos internacionais que os obrigam a garantir que as companhias aéreas sejam capazes de repatriar suas receitas”.