Entrevista exclusiva com Carlos Morais “vou decidir o futuro brevemente”


Depois de uma caminhada sensacional ao serviço da Selecção Nacional, no Campeonato Africano das Nações, vulgo Afrobasket, prova disputada na Costa do Marfim, e  ter  sido eleito  MVP (Jogador Mais Valioso) da referida competição, o extremo-base Carlos Edilson Alcântara Morais expôs-se à  cobiça de vários emblemas europeus e não só. Aos 28 anos de idade, o internacional angolano falhou ‘por uma unha negra’ a entrada na Liga Norte-Americana de Basquetebol, a famosa NBA, por via dos Toronto Raptors, equipa onde esteve a efectuar testes.

Apesar de não ser o primeiro jogador angolano a tentar entrar na NBA, Carlos Morais foi o que mais longe chegou. Só afastado na última fase. Para o ex-jogador do Petro de Luanda, não foi por falta de talento, que não ingressou na formação dos Toronto. No seu entender, para além de qualidades técnicas que assume ter, faltou o conhecido ‘lobby’ para a consumação do objectivo.De regresso ao país, Carlos Morais tenciona definir o seu futuro nos próximos dias. Em entrevista exclusiva ao Jornal dos Desportos, o internacional angolano agradeceu as mensagens de apoio que recebeu dos seus compatriotas enquanto esteve a efectuar os testes. Atente pois a entrevista que se segue:

Jornal dos Desportos – Esteve “à porta” da NBA. Sentiu-se desiludido com a não consumação do objectivo?

Carlos Morais –De maneira alguma. Penso, que só a experiência que tive já valeu a pena, porque foi algo que eu já perspectivava há muito. Entrar para a NBA foi sempre o meu sonho. Não entrei desta vez, mas ainda assim, não me sinto desiludido. Muito pelo contrário, sei que as coisas não correm como podiam ter corrido, mas devo assegurar-lhe que não foi por falta de capacidade técnica. A escolha final envolveu outras nuances.

JD – Está a referir-se exactamente a quê?

CM – A NBA é tão-somente a melhor liga do mundo. São centenas de atletas que tentam ingressar na NBA. Felizmente, eu consegui chegar até a última etapa. E se atingi aquela fase é porque tenho qualidades técnicas. Acho que faltou o que chamámos lobby.

JD- Sabemos que um teste não passa disso mesmo. Mas tinha esperança de ingressar na NBA?

CM – Sem dúvidas, tinha essa esperança. Deste o primeiro dia que cheguei para fazer os testes nos Toronto, apercebi-me que o basquetebol praticado lá não está muito distante do nosso. É certo, que existem mais condições. O basquetebol é muito mais competitivo, mais equipas a lutarem pelo título, os jogadores são mais fortes, mas nós em Angola também temos bons jogadores. Eu tinha esperança de que podia ficar.

JD – Como descreve os dias que ficou a  experiência na equipa dos Toronto Raptors?

CM – Foi um sonho tornado realidade. Todos os dias era algo diferente, algo novo para mim, apesar de achar que o tipo de basquetebol que se pratica aqui  é mais ou menos parecido com o de lá; não é como o basquetebol europeu, mas, todos os dias era uma novidade estar a jogar com ídolos, estar numa equipa que eu estava habituado a ver apenas pela televisão, era algo espectacular para mim. Por isso, tentei desfrutar todos os momentos que vivi lá.

JD – Senti o apoio e a colaboração de colegas de equipa?

CM – Honestamente senti. Devo dizer que fui bem recebido quer pelos responsáveis da equipa, quer pelos colegas. Portanto, neste aspecto não tenho nada a apontar.

JD – Como é que surgiu a oportunidade para testar na equipa dos Toronto Raptores?

CM – A sua pergunta é bastante pertinente. Durante estas duas semanas ouvi muita gente dizer que foi através do A ou B, que fui testar na NBA. O certo é que por causa de um contacto por intermédio do técnico Lazare Adingono, do Petro de Luanda, fui observado pelo director para as operações dos Toronto Raptors e foi ele quem me vez o convite, ou seja, o contacto numa fase inicial foi estabelecido pelo treinador do Petro de Luanda. Daí para frente, eu tratei tudo com o director para o basquetebol dos Toronto, directamente, e foi assim que fui parar lá, depois de ter visto vários jogos da Selecção Nacional em Abidjan, Costa do Marfim.

JD – Até que ponto o papel do seu agente influenciou na sua ida?

CM – O meu agente tem um papel fundamental na minha carreira, na minha desenvoltura como jogador, porque para eu jogar bem não basta só ter qualidade, é preciso trabalhar com pessoas que em primeiro lugar querem o meu bem e, em segundo lugar, velam pelos meus interesses.

JD – Enquanto esteve à experiência sentiu de alguma forma o apoio que vinha de Angola?

CM – Senti, honestamente o apoio do povo angolano. Os angolanos estiveram comigo de forma eufórica deste o primeiro minuto, recebi milhares de mensagens, as pessoas mostravam-se contentes e isso foi bastante gratificante.

JD- Estar entre os 17 jogadores já foi uma vitória para si?

CM – Exactamente. Só para ter uma ideia, houve jogadores angolanos que foram fazer testes nas equipas da NBA e foram para uma fase chamada ‘summer’ ligue, quando as equipas têm vinte a trinta jogadores que eles convidam para jogarem com outras equipas da NBA e daí eles escolhem dois ou um jogador, às vezes não escolhem ninguém. Depois começa a fase de ‘training camp’ que é a fase em que fui.

JD – Acha que o tempo que foi dado foi suficiente?

CM – Olha, lutar para entrar na NBA já foi difícil para mim, pelo facto de eu ser estrangeiro, não ter experiência internacional, porque eles lá não valorizam muito o básquetebol praticado em Angola. Não sabem o quão competitivo é o nosso campeonato, que tipo de jogadores temos. Então, era um jogador completamente novo, apesar de ter uma vasta experiência a nível internacional. Portanto, eu não passava de um desconhecido para eles e isso foi algo que criou imensas dificuldades. Tive de lutar muito para mostrar as minhas potencialidades em todas as oportunidades que tive e que não foram muitas. Sem esquecer que foi numa fase muito difícil da equipa, na medida em que o plantel estava praticamente definido. É uma equipa que normalmente luta para os play-off. Daí que havia uma necessidade urgente de olhar para os três jogadores. Eu também pude perceber que só o meu talento não era suficiente para integral no lote dos quinze atletas.

JD – Depois de ter falhado a entrada, daqui em diante a NBA ‘era uma vez’ ou pensa voltar a tentar no futuro?

CM – Eu prefiro pensar que não falhei. Desde o primeiro momento em que comecei a treinar, senti que eu podia integrar a equipa. Quando os treinos foram acontecendo no decorrer do tempo, percebi isso em função do retorno que recebia dos treinadores. Sempre batalhei muito para conseguir as minhas coisas. Por isso, vou continuar a trabalhar para criar outras oportunidades.

JD – Está no país há sensivelmente duas semanas. Como foi recebido pela família e colegas?

CM – Graças a Deus, fui muito bem recebido. Todo o mundo ficou orgulhoso de mim, porque consegui realizar uma parte do meu sonho, apesar de não ter ficado. Eu fiz jogos e bem conseguidos.

Revelação  

“Vou decidir o futuro brevemente”

Apesar de ter os olhos focalizado no profissionalismo, o internacional angolano não põe de parte voltar a actuar no país, terminado o vínculo contratual na temporada transacta com a equipa do Petro de Luanda. Formado nas escolas da equipa do Eixo-viário, onde se consagrou como atleta de alta competição, o extremo base da Selecção Nacional coloca a sua ex-equipa na lista de prioridades sem naturalmente fechar a porta a outros emblemas nacionais interessados nos seus serviços.

JD – Nesta altura é um jogador livre, como pensa dar sequência a sua carreira. Vai regressar ao Petro de Luanda?

CM – Como disse e bem, sou um jogador livre, acredito, que nos próximos dias vou definir o meu futuro. Estou aberto a qualquer proposta desde que satisfaça as duas partes. Apesar de estar aberto a qualquer equipa, o Petro de Luanda, clube que me formou vai merecer sempre a minha prioridade».

JD – Sabe-se, que antes teve convites de vários clubes da Europa. Pensa responder a um deles?

CM – Eu e o meu agente estamos a analisar as propostas que surjem de vários clubes não só a nível da Europa, e quando aparecer aquele que mais se aproximar dos nossos objectivos, obviamente, que não vou hesitar.

JD – Falava-se no Real Madrid?

CM – Sim, os responsáveis do Real Madrid estiveram presentes numa das sessões de treino, que Selecção Nacional fez em Espanha, aquando da preparação para o Campeonato Africano das Nações, na altura não foi feita nenhuma proposta formal. O meu agente também não foi devidamente informado sobre o assunto, talvez porque ficaram a saber da minha ida aos Toronto Raptors. Eles manifestaram o interesse nos meus préstimos, mas não apresentaram propostas concretas».

JD – Qual das ligas gostava de jogar na Europa e porquê?

CM – Depois da NBA, a liga que gostava de representar é sem dúvidas a espanhola. É um campeonato extremamente competitivo e ajuda qualquer atleta a atingir grandes ‘performances’. Não é por acaso, que é considerada a segunda melhor liga do mundo, e se eventualmente eu for jogar na Europa, a Espanha é seguramente o meu destino e depois partir para outros voos.

JD – Existem mais probabilidades de jogar no país ou no estrangeiro?

CM – O meu agente está a analisar várias propostas e acredito que brevemente os angolanos ficam a saber do meu destino. É só uma questão de dias.

CAMPEONATO Mundial

“Quero estar em grande em Espanha”

Depois de se ter estreado ao serviço da Selecção Nacional em 2005, aos 20 anos de idade, Carlos Morais tornou-se rapidamente numa das referências do ‘cinco’ nacional. Hoje, aos 28 anos de idade, o extremo base quer disputar o seu terceiro Campeonato do Mundo, que em 2014 vai ter como palco o Reino de Espanha. Para o internacional angolano, a Selecção Nacional pode melhorar ou manter a proeza de 2006, quando o combinado nacional ocupou o honroso nono lugar, competição disputada no Japão.

JD – Angola vai competir no mundial de Espanha em 2014. O que é que se pode esperar da participação da Selecção Nacional e de Carlos Morais em particular?

CM Eu pretendo ao longo desta época preparar-me como nunca, quero estar bem, e quando chegar a altura esteja em plena forma desportiva, para ajudar a Selecção Nacional a jogar bem e a ganhar jogos. Eu agora, que estive a fazer testes na NBA, sou um jogador muito mais conhecido, e o mundo vai estar ‘de olho em mim’, e quero voltar a tentar entrar na NBA. E para isso, tenho de fazer uma excelente época e depois fazer um bom Campeonato do Mundo. Vou trabalhar para melhorar alguns aspectos que não estão tão bem como gostava.

JD – Acredita que o Campeonato do Mundo pode servir de ponta para alcançar outros patamares?

CM – Sem dúvidas. Penso que se eu fizer uma boa campanha durante o Campeonato do Mundo em Espanha, não tenho dúvidas de que vão surgir mais convites para eu abraçar outros desafios, por isso, vou trabalhar arduamente para estar em plena forma.

JD – Carlos Morais faz parte da geração de jogadores que até aqui conseguiram a melhor classificação de sempre em fases finais de Campeonatos do Mundo (nono lugar). Acha que a Selecção Nacional pode manter ou superar a classificação em 2014? 

CM – Olhe, vou ser-lhe honesto. Por tudo o que tenho visto a nível internacional, nós temos uma selecção muito forte. O que faz com que às vezes, não tenhamos boas prestações, se calhar tem a ver com a forma como abordamos a preparação para os Campeonatos do Mundo. Nós quando vamos preparar um Campeonato Africano, as coisas são muito mais sérias, porque aí se calhar, nós sabemos que podemos ganhar, ou temos de ganhar, mas o mesmo não acontece quando vamos para os Jogos Olímpicos ou para os Campeonatos do Mundo. Se calhar as pessoas duvidam, que nós podemos chegar lá, a jogar bem e até mesmo lutar por um lugar no pódio”.

JD – No seu entender acha que FAB tem menosprezado estas competições?

CM – Quando falo de preparação, não estou exclusivamente a falar apenas da federação. Falo da Selecção no todo, desde os colaboradores, jogadores, federação e isso é algo, que temos que melhorar. Não basta só os jogadores estarem a pensar em ganhar e a federação não ouvice-versa.  


Constatação     

« A modalidade tem evoluído»

selecções nacionais e às equipas, manterem o domínio no continente africano, de acordo com Carlos Morais. Para o internacional angolano é preciso que se aposte cada vez mais na formação.

JD – como é que caracteriza o basquetebol angolano?

CM – «Acho que o basquetebol angolano evoluiu bastante nos últimos três, dois anos, mas é preciso que as equipas e a federação continuem a trabalhar cada vez mais. Se queremos que haja mais evolução, temos que apostar nas infra-estruturas, é outro aspecto fundamental, prende-se com a formação. Temos que trabalhar muito na formação, porque é a partir daí, que vão surgir mais Carlos Morais, Olímpio Cipriano, Jean Jacques, Miguel Lutonta enfim».

JD – Esta evolução tem se reflectido na qualidade das equipas fundamentalmente naquelas que lutam pelo título?


CM
– «Hoje, para além do 1º de Agosto e Petro de Luanda temos mais duas equipas, que têm lutado pelo título, em pé de igualdade, refiro-me ao Libolo e ao Interclube. Ainda temos o Atlético Sport Aviação (ASA), que tem feito ‘vida cara’ aos chamados grandes”.

Perfil
Nome completo
: Carlos Edilson Alcântara Morais
Idade: 28 anos
Peso: 91kg
Altura: 1,93
Formação:
Petro de Luanda
Títulos africanos
: Quatro

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