“Como jogador nunca recebi casa. Actualmente vivo numa casa arrendada” – Ângelo Vitoriano


O ex-basquetebolista várias vezes campeão africano pela selecção sénior masculina nacional, Ângelo Vitoriano que se encontra a passar uma das piores fase da sua vida, revelou em uma longa entrevista a revista CAJU, que sente-se abandonado e injustiçado pelo país (Angola), cuja bandeira elevou por mais de 17 anos. 

Angrlo Vitoriano

Enfrentando problemas de saúde, “diabete”, o ex-campeão nacional falou das suas dificuldades financeiras que tem encontrado nos últimos tempos, não escondendo a sua vontade de voltar a fazer o que mais gosta (trabalhar com a bola), e clamou por uma oportunidade para voltar no activo.

Revista Caju: Sente que o país não tem retribuído esses 18 anos?

Ângelo Vitoriano: Nunca retribuiu. Habituei-me desde cedo a lidar com a vida, por isso é que não tenho dificuldades maiores, venho de uma família humilde e o que vier será sempre bem vindo.

R.C: Parte dos campeões do seu tempo andam desaparecidos?

A.V: Desaparecemos, sentimo-nos abandonados pelo país, apesar de tudo o que fizemos pela pátria. Andei cerca de 20 anos na selecção nacional e nunca faltei a nenhuma competição. Levamos a bandeira de Angola a outros países. Com muita honra e dignidade fomos verdadeiros heróis angolanos. Tenho um filho de 25 anos, daqui a pouco terei netos e não tenho nada daquilo que dei pelos 18 anos de alegria ao país para mostrar-lhe. É frustrante.

R.C: Tem casa Propria?

A.V: Como jogador nunca recebi casa. Actualmente vivo numa casa arrendada. Mesmo tendo participado em seis mundiais, Jogos Olímpicos, onze campeonatos africanos, dos quais ganhei oito como jogador e um como treinador adjunto, nunca tive o prazer de receber algo simbólico por tudo que fiz pelo país.

R.C: O que faz actualmente?

A.V: Neste momento estou a gerir dois armazéns de bebidas de um familiar, mas esta não é a minha praia. So agora estou a ganhar forças mentais e físicas. Jogamos numa época em que não ganhamos quase nada, lembro que o prémio do primeiro título africano foi de 2.500 USD e o último em 2005 foi de 10.000 USD. O pior é que as pessoas pensam que por esse títulos todos ganhamos muito dinheiro. Tenho ex-colegas a viverem na casa das sogras depois de tudo que fizeram pelo país.

R.C: Os vossos salários sofriam descontos?

A.V: Lembro que tanto no 1ºD´ Agosto tanto no Petro os salários eram descontados. Não sabemos para onde foi esse dinheiro e hoje não temos nenhuma pensão. Vale a pena dizer que a esperança é a última a morrer e acredito nas pessoas de boa fé.

R.C: Qual é o seu problema de saúde?

A.V: Diabete. Passei meu aniversario internado, durante 11 dias na UTI da clínica Meditex. Tinhas mais de 630 de glicemia. Eu ignorava a situação e só fazia o que era proibido. Hoje vou conhecendo melhor a doença, cheguei a ouvir boatos que tinha SIDA. estou doente a 3 anos. Fisicamente já não serei o mesmo porque tenho que cumprir alguns regimes alimentares, mas hoje sinto-me melhor fisicamente e espiritualmente.

R.C: Como avalia o actual basquetebol?

A.V: No meu tempo a selecção era mais compacta e agressiva, entravamos no campo com cabeça tronco e membro. O basquetebol actual é muito diferente, fazíamos de tudo para que os todos se saíssem bem, havia o colectivismo que hoje não se vê. Ganhamos competições e não prémios individuais porque jogávamos em equipa.

R.C: Acredita no sucesso da actual Federação?

A.V: Nunca acreditei muito nos dirigentes do basquetebol. Acredito mais nos jogadores e treinadores, porque já estive nesse meio e eles desrespeitavam-nos muito. Se demos continuidade a selecção estes anos todos é porque respeitamos o povo e não há angolano que não se orgulhe de nós.

R.C: O que espera da vida?

A.V: Nesta altura gostaria de voltar para o basquetebol. Quero que alguém chegue e me dê uma oportunidade. É isso que eu espero da vida, tenho muita força mental e física. Falei com um nato dirigente do país que tem me apoiado nesse sentido, não devo mencionar o seu nome, mas garantiu-me que iria colocar-me novamente no basquetebol. tenho vontade de voltar.

A entrevista completa você lê na edição 168 da revista Caju que já se encontram nas bancas angolanas.


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