Todos os caminhos foram dar ontem à Marginal de Luanda, onde milhares de pessoas acorreram em massa para assistir à primeira missa celebrada pelo novo arcebispo, D. Filomeno Vieira Dias, empossado sábado na Sé Catedral.
Uma multidão participou num acontecimento nunca visto na velha cidade de “Loanda”, que ontem fez 439 anos de glória mas também de sofrimento.
Com D. Filomeno celebraram a missa 100 padres e 16 bispos no dia em que a cidade de Luanda completou 439 anos. Para os católicos das congregações das províncias e provenientes de várias dioceses do país, todos os caminhos foram dar à Baía de Luanda.
Antes das sete horas da manhã, nas bermas das estradas da Muxima, Quissama, Calumbo, Funda, Zango e Benfica milhares de fiéis, sobretudo mulheres vestidas a rigor com os seus trajes tradicionais, aguardavam as centenas de autocarros mobilizados para a grande festa. Muitos grupos alugaram táxis. Todos queriam chegar a tempo ao local da missa, para conseguirem uma posição privilegiada e ouvir a mensagem do novo arcebispo de Luanda, que no dia da tomada de posse, disse aos fiéis: “Estou aqui para servir e não para ser servido”. Sábias palavras.
Em todas as estradas estavam agentes reguladores de trânsito e da Ordem Pública. Os automobilistas que transportavam os fiéis eram aconselhados a conduzir com toda a prudência. “Hoje Luanda está a fazer duas festas, numa só. A celebração da primeira missa do novo arcebispo de Luanda e o aniversário da nossa linda cidade. Por isso, conduza com todo o cuidado. Está a levar vidas humanas que vão orar para todos nós, principalmente para os que estão a trabalhar”, pediu uma agente reguladora de trânsito que se encontrava em serviço na estrada do Zango.
O taxista respondeu à agente: “Sempre conduzi com prudência. Juro em nome dos meus filhos que vou conduzir com prudência e numa velocidade mínima. É a minha acção que entrego hoje à Igreja Católica”. A agente reguladora de trânsito exclamou: “Que Deus o oiça e abençoe!”.
Apresentação do arcebispo
A missa começou às 10h18m com a procissão seguida da bênção inicial. Posteriormente o Núncio Apostólico em Angola, D. Novatus Rugambwa, fez a apresentação do novo arcebispo de Luanda, D. Filomeno Vieira Dias, a todos os presentes, que ouviram cânticos religiosos entoados pelo coro da Arquidiocese de Luanda.
O arcebispo de Luanda, D. Filomeno Vieira Dias, reconheceu ontem que a missão que a Igreja de Luanda lhe confia é muito grande e desafiadora. Por isso, pediu a colaboração de toda a sociedade para que dê bons resultados. O arcebispo disse que ao assumir a Arquidiocese de Luanda, confia o seu ministério pastoral à Nossa Senhora da Muxima. Para o arcebispo que iniciou o ministério pastoral também ontem, disse que Luanda “continua a cidade baptizada e crismada”, comprometida em edificar-se segundo os valores do Evangelho, desafiantes e exigentes.
O arcebispo convidou toda comunidade cristã a perseverar a obra de Deus e disse esperar que cada fiel da sua comunidade encoraje os presbitérios a servirem em nome de Cristo e fomentem o Evangelho em todas as estruturas da vida social.
O arcebispo, durante a sua homilia, saudou os fiéis vindos de outras dioceses do país, em particular da diocese de Cabinda,“onde cresci, amadureci e me fiz plenamente filho e servo de Deus”, disse o arcebispo de Luanda. D. Filomeno Vieira Dias, ao transmitir uma mensagem de paz e fraternidade aos que se encontram doentes e presos, agradeceu todo apoio dado pelos fiéis das várias dioceses do país, em particular aos de Luanda. “Eu devo ser testemunha da bondade e da imensidão de Deus”, referiu o arcebispo, desafiando as pessoas a saírem do egoísmo e viverem ao serviço de Deus.
Obediência e caridade
Para o núncio apostólico em Angola, D. Novatus Rugambwa, a tomada de posse e o início da missão pastoral de D. Filomeno Vieira Dias são acontecimentos que encontram sentido na vida e na fé.
D. Novatus Rugambwa, visivelmente feliz, disse que a missão que D. Filomeno Vieira Dias iniciou ontem, “só pode ser exercida na obediência e na caridade com os irmãos”. A multidão presente na Marginal entoava belos cânticos. O clima era de festa e alegria.
Estiveram presentes na cerimónia de apresentação pública do arcebispo de Luanda, o cardeal Alexandre do Nascimento, o núncio apostólico, D. Novatus Rugambwa, os bispos das várias dioceses do país, o Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, o vice-presidente do MPLA, Roberto de Almeida, a vice-presidente da Assembleia Nacional, Joana Lina, membros do Executivo e do Poder Judicial, o governador de Luanda e o bispo da Igreja Metodista Unida, Gaspar Domingos.
A mãe já tem Pastor
O presidente da Conferência Episcopal de Angola e S.Tomé (CEAST), D. Gabriel Mbilingue, disse à nossa reportagem que “este é um grande dia para todos, uma vez que a sede de Luanda é das sedes mais importantes da Igreja Católica de Angola. O facto desta ter ficado muito tempo sem um arcebispo deixou os membros da CEAST preocupados, mas em todo caso hoje é um dia de grande alegria para a comunidade luandense, porque a sede mãe já tem o seu pastor”.
D. Gabriel Mbilingue considerou que este é um grande desafio para D. Filomeno, porque “são ainda poucas as paróquias que Luanda tem, no mínimo podiam existir 100 paróquias, tanto que é a Arquidiocese com mais fiéis católicos”.
Roberto de Almeida também esteve presente na primeira missa de D. Filomeno Vieira Dias. O vice-presidente do MPLA lembrou que há um bom entendimento e uma parceria entre a Igreja Católica e o Executivo: “Hoje a Igreja é dos mais fortes parceiros do Governo em vários domínios de carácter social, como a educação, ensino, saúde e no resgate dos valores morais e cívicos. Esta é mais uma oportunidade para continuarmos nesta senda e para fortalecer mais a relação”.
O bispo da Igreja Metodista Unida de Angola, Gaspar Domingos, lembrou que como cristão foi com “enorme satisfação” que assistiu à celebração, “porque sentimos que estamos a cumprir com todos preceitos divinos que mostram que todos somos mordomos da causa de Deus”.
Unidade cristã
O líder religioso disse ser motivo de satisfação “sabermos que mais um guia do povo de Deus foi indicado, por conta disso devemos dar o nosso apoio, temos muito gosto em continuar a trabalhar com ele”.
Acrescentou que “vamos fazer votos para que na área da pacificação e no rasgaste dos valores morais, possamos encontrar mais uma força para juntos trabalharmos em prol do país”.
Em declarações ao Jornal de Angola, o bispo do Botswana, D. Frank Nubuasah, afirmou que a primeira missa do arcebispo de Luanda foi um acontecimento importante, “muito particularmente porque ele é filho nato desta cidade”. Esta celebração, acrescentou, “é um sinal de crescimento e maturidade da Igreja em África, porque os missionários fizeram o seu trabalho, agora é a nossa vez”.
O bispo da Diocese de Brazzaville, D. Bienvenu Manamika, disse à nossa reportagem que a sua presença é uma resposta da fraternidade: “somos todos filhos da mesma Igreja e esta celebração significa que estamos todos em família e ao mesmo tempo a animar os jovens para que tomem rédeas da Igreja Católica em Luanda”.
Felicidade do povo
Da África do Sul veio D. Sithembele Anton Sipuka, bispo da Diocese de Umtata: “É com grande jubilo que estou em Luanda e vejo um tão grande número de fiéis reunidos por uma grande causa e principalmente quando se trata da causa para Deus. É visível que o povo que aqui hoje se encontra está feliz pelo seu novo arcebispo. Eu também estou feliz com eles e por me ter juntado a eles”.
O bispo da Diocese de Mbanza Congo e presidente para Comissão da Vida Consagrada, D. Vicente Carlos Kiaziku, disse à nossa reportagem que D. Filomeno vai ser uma grande referência para a Igreja Católica: “Esta foi uma escolha acertada não só pelo tempo que D. Filomeno vive a Igreja, mas porque D. Filomeno é de Luanda, conhece a cidade e vai saber enfrentar esta realidade que é Luanda. Vai saber desempenhar bem esta função que lhe foi atribuída”.
Para D. Joaquim Ferreira Lopes, bispo de Viana, ontem foi um dia muito especial para o povo e para o clero de Luanda: “A comunidade de Viana também está presente porque se trata da Igreja, mas também porque a nossa diocese está ligada afectivamente e umbilicalmente a Luanda”.
D. Manuel Imbamba, arcebispo de Saurimo, disse que a tomada de posse de um bispo da capital é sempre um momento de grande solenidade para os cristãos da Arquidiocese de Luanda e de toda Angola: “Sendo a capital Luanda a mais importante e mais antiga depois de Mbanza Congo e que já deu origem a outras arquidioceses, estamos felizes por presenciarmos este momento e damos graças a Deus”.
Anunciadores da Paz
Durante a celebração, o governador de Luanda, Graciano Domingos, enviou também uma mensagem de apreço ao arcebispo D. Filomeno Vieira Dias. Reconheceu que Luanda precisa cada vez mais “de anunciadores da paz social”, para que os ganhos obtidos se consolidem cada vez mais e para que as famílias vivam com amor, harmonia e as crianças cresçam sem medo dos seus semelhantes.
“Luanda é uma cidade cosmopolita onde convivem várias culturas, hoje com a celebração de dois grandes momentos para o povo de Luanda, o 439º aniversário da nossa cidade e a primeira missa do seu arcebispo”, disse.
Para Graciano Domingos, “estamos perante o desafio de construir e reconstruir uma sociedade luandense mais humana”.E acrescentou: “O Governo de Luanda conta com apoio e vigor da palavra divina de D. Filomeno e dos missionários de Angola junto das famílias”.
Luanda é uma cidade onde convivem hábitos e costumes diferentes: “O individualismo, a falta de solidariedade e de respeito pelo próximo representam verdadeiras ameaças”.
“A sociedade tem que continuar a aceitar a educação e respeito pela pessoa humana, o convívio solidário, a luta pela justiça e pela paz, o respeito pelos direitos humanos, a reconciliação connosco e com os outros, para uma existência coesa e equilibrada”, disse o governador de Luanda.
Feira no Baleizão
O Largo do Baileizão teve ontem uma feira improvisada. Centenas de pessoas vendiam panos e camisolas com adornos religiosos, discos de música gospel, iguarias, refrigerantes, águas e livros bíblicos.
A venda não atrapalhou o acompanhamento da homília. A reportagem doJornal de Angola deu com um agente da Polícia Nacional, que se encontrava em serviço no Largo do Baileizão, a apertar a mão aos fiéis quando D. Filomeno Vieira Dias mandou que todos se saudassem em nome da paz. Mas o agente estava sempre atento para que nada perturbasse a festa.
Os serviços de apoio trabalharam acima do previsto. Os escuteiros estavam prontos para atender todos aqueles que necessitavam dos seus préstimos. As equipas das Emergências Médicas estiveram sempre presentes, logo às primeiras horas do dia. As operadoras de recolha de lixo trabalharam incansavelmente.
Depois da missa, que durou mais de quatro horas, a festa continuou nos bairros de Luanda. Afinal ontem a cidade completou 439 anos. No Sambizanga, Rangel, Cazenga e mesmo na Baixa grupos de famílias inteiras e amigos reuniram-se à volta do farnel de petiscos e dos fogareiros onde grelhavam carne e peixe. Luanda ontem viveu duas festas que se tornaram numa só.
0 Comentário